Tebet sobre o BC: entre o passado glorioso e o presente desastroso
Com o dólar nos píncaros por causa das diatribes do Planalto, a última da ministra foi questionar o tempo de mandato do presidente do BC
atualizado
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É difícil equilibrar-se entre um passado glorioso e um presente desastroso, como tenta fazer Simone Tebet. No papel de senadora do MDB, ela votou a favor da PEC que estabeleceu o teto de gastos e pela reforma trabalhista, entre outras medidas demonizadas pelo PT. No cargo de ministra do Planejamento do atual governo, Simone Tebet alivia a barra para a chefia irresponsável no plano fiscal.
Com o dólar nos píncaros, em curva que acompanha as diatribes de Lula contra Roberto Campos Neto, a última da ministra do Planejamento foi questionar o tempo de mandato do presidente de Banco Central. Ela disse o seguinte a jornalistas:
“Todo mundo sabe que eu apoio a autonomia do BC. Mas eu tenho um questionamento que eu disse para alguns colegas no passado, não só do governo passado, mas serve até para esse governo, o governo do presidente Lula, pensando lá no próximo presidente. Acho que seria saudável. É saudável a autonomia do BC, mas eu questionei esses dois anos de um presidente de um banco central de governos passados. Acho que um ano é mais do suficiente para se adequar e passar o bastão.”
Como é que é, Simone?
“Repito: não é porque isso significa que vai haver interferência do Executivo ou do Legislativo no Banco Central, isso não é permitido, a autonomia do BC está aí, é uma preceito constitucional que eu comungo, e o governo sabe disso. Mas realmente dois anos, eu acho que cria esse estresse, cria esse ruído.”
Simone Tebet está de conversa mole. O estresse e o ruído — na verdade, um barulhão — não são criados pelo fato de o presidente do Banco Central herdado de gestão anterior ter dois anos de mandato na gestão seguinte — uma afirmação robusta da sua autonomia, tal como pensado pelos legisladores. Eles são resultado da incapacidade de o atual presidente da República aceitar que a autoridade monetária seja autônoma. Lula não se conforma de não ter podido designar desde o início um nome com a coluna vertebral flexível aos seus ditames.
Vou fazer como Simone Tebet e repetir: o atual inquilino do Palácio do Planalto quer baixar a taxa básica de juros (Selic) na marra e tem no valente Roberto Campos Neto um obstáculo intransponível até o final deste ano.
Lula faz crer apenas aos ingênuos que a causa do problema da economia brasileira é a Selic. Não é. A Selic é resultado do desgoverno fiscal de uma administração que gasta mais do que arrecada e, para tapar o buraco, vai aumentando a sua dívida, com todas as inconsequências que o endividamento excessivo traz.
O presidente do Banco Central herdado de Jair Bolsonaro virou bode expiatório. É apontado como sabotador político, coisa que está longe de ser, para escamotear a inépcia do próprio Lula. Não cola. Roberto Campos Neto também não prestava satisfações ao presidente que o indicou. Prova disso é que a taxa básica de juros na época bolsonarista começou em 6,5% e chegou a 13,75% ao ano por causa da ameaça inflacionária.
Ministra Simone Tebet, a senhora sabe de tudo isso. Sabe também que o provável indicado de Lula para substituir Roberto Campos Neto, o diretor do BC Gabriel Galípolo, a quem Lula chama de “menino de ouro”, só passará pelo crivo do presidente da República se prometer fazer tudo o que seu mestre mandar. A esperança é que o menino de ouro não cumpra a promessa e o presente de Simone Tebet seja menos desastroso.