Soldados da Coreia do Norte na Ucrânia: é o prefácio da 3ª Guerra
A Coreia do Norte deverá enviar 12 mil soldados para lutar ao lado dos russos na Ucrânia. Enquanto isso, o Ocidente continua recalcitrante
atualizado
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O serviço de informações da Coreia do Sul divulgou, na sexta-feira, que a Coreia do Norte enviará 12 mil soldados à Ucrânia para combater ao lado dos russos. De acordo com os sul-coreanos, que contam com imagens de satélites para comprovar o que dizem, 1.500 soldados já chegaram à Rússia, transportados por navios russos.
A Ucrânia corrobora a Coreia do Sul. “Nós temos informações que indicam que a Coreia do Norte enviou pessoal tático e oficiais para território ucraniano, em áreas provisoriamente ocupadas, e que eles treinam 10 mil soldados, ainda não enviados para a Ucrânia ou para a Rússia”, disse o presidente Volodymyr Zelensky na sede da Otan, em Bruxelas. Segundo os militares ucranianos, as tropas norte-coreanas deverão estar prontas para combater no início de novembro, com armas e munição russas.
A Coreia do Norte fornece mísseis e tecnologias militares à Rússia, assim como o Irã lhe fornece drones e a China, dinheiro, por meio da compra de parte do petróleo russo antes importado pelo Ocidente. Juntar-se à Rússia no campo de batalha, contudo, representa muito mais: é a entrada, de fato, de um terceiro país na guerra.
A presença de soldados norte-coreanos em território ucraniano preocupa a Otan por ser uma escalada que não poderá ficar sem resposta. Quando o presidente francês Emmanuel Macron sugeriu, em fevereiro, que tropas ocidentais poderiam ser mandadas à Ucrânia, os seus aliados o reprovaram afirmando que o envio de tropas seria ultrapassar a linha vermelha. Pois a linha vermelha, mais uma delas, está para ser ultrapassada pelos russos.
Vladimir Putin usou como um dos pretextos para a invasão da Ucrânia a expansão da Otan nas fronteiras da Rússia. Pretexto de Pinóquio. A Otan nunca foi aliança militar ofensiva, mas defensiva — nasceu justamente para evitar o expansionismo da então União Soviética na Europa, o que o ditador busca reviver no seu ensandecimento.
A invasão de 2022 teve o efeito contrário ao pretendido por Vladimir Putin. Com medo de uma investida russa, países até então militarmente neutros, como Suécia e Finlândia, que tem a maior fronteira terrestre com a Rússia, pediram para ser integrantes da aliança ocidental e foram aceitos como tal. Importante, mas não basta.
O fornecimento de armas para a Ucrânia, principalmente da parte de americanos, britânicos e alemães, vem aumentando desde o início da guerra, mas a verdade é que a tibieza ocidental diante da agressão russa é contrastada pela crescente ousadia de Vladimir Putin.
O Ocidente errou quando fez vista grossa para a tomada da Crimeia, em 2014, o que estimulou o ditador a prosseguir no seu plano confesso de anexar a Ucrânia e, deste modo, varrê-la do mapa como país independente. O Ocidente errou e continua a errar ao não encarar a guerra dos ucranianos como uma guerra sua.
Se vencer na Ucrânia, a Rússia não vai parar por aí. Seu próximo passo será invadir as ex-repúblicas soviéticas da Moldávia, da Geórgia (da qual já tomou 20% do território, em 2008) e da Lituânia — neste caso, para ter território contínuo até Kaliningrado, o enclave russo na Polônia. Como a Lituânia faz parte da Otan, um ataque russo significaria que todos os demais países da aliança militar estariam obrigados a defendê-la.
Com a sua tibieza, portanto, os ocidentais estão apenas adiando um conflito direto que será inevitável, e de tempo mais longo e com proporções muito mais trágicas, se os russos não forem repelidos já. Hoje, as ameaças nucleares de Vladimir Putin são bravatas; amanhã, elas deixarão de ser, inevitavelmente.
Estamos no prefácio da Terceira Guerra Mundial, repita-se pela enésima vez, e a entrada de tropas norte-coreanas na Ucrânia, se vier mesmo a ocorrer, será mais um fato eloquente.
As guerras mundiais do século XX começaram com disputas na Europa que transbordaram por causa de um sistema de alianças míope, como no caso na Primeira Guerra, ou que demorou a funcionar, como no caso da Segunda Guerra.
É o que a se assiste agora: embora não faça parte da Otan, a Ucrânia vem defendendo bravamente e sozinha, além de si própria, o inteiro Ocidente contra a Rússia e os seus aliados Coreia do Norte, Irã e China (que deixará a dissimulação se vier a invadir Taiwan). A história mostra que, com deliquentes como Vladimir Putin, é preciso falar grosso logo ou eles se sentirão estimulados a perpetrar agressões concêntricas, juntamente com comparsas da mesma estirpe em outros lugares do mundo.
A coragem e a eficiência militar dos ucranianos surpreendeu os seus inimigos e os seus aliados. Eles mostraram que podem vencer definitivamente a Rússia, se contarem com armamentos suficientes para tanto e se puderem usá-los em território inimigo. Mas, depois de mais de dois anos de conflito, os ucranianos estão no seu limite. A Rússia também está perto do limite, mas pode contar com aliados dispostos a ajudá-la até mesmo com tropas, como se vê agora. A Ucrânia, por sua vez, tem aliados recalcitrantes. É uma guerra desigual também neste aspecto.