Sobre o sujeito que acha que ter Porsche lhe dá direitos especiais
Brasileiros estão empenhados em colocar a alemã Porsche, uma das marcas mais valiosas do mundo, em manchetes policiais. Coitada da Porsche
atualizado
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Brasileiros estão empenhados em manchar a reputação da fabricante de carros alemã Porsche, uma das marcas mais valiosas do mundo, colocando-a em manchetes policiais.
Em março, tivemos a ocorrência do “empresário” Fernando Sastre Filho, em São Paulo, sobre o qual escrevi aqui neste meu canto. Alcoolizado, o playboy acelerou em uma avenida como se estivesse em pista de corrida, bateu no carro do motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, e matou com o seu carrão de 1,3 milhão de reais o duplamente pobre coitado que trabalhava durante a madrugada. A polícia o deixou fugir do flagrante, com apoio da mãe dele, mas o rapaz acabou preso, como deve ser.
Agora no final de julho, também em São Paulo, foi a vez de um motoboy ser assassinado por um motorista de Porsche. O dono de bar Igor Ferreira Sauceda jogou o seu bólido contra a motocicleta de Pedro Kaique Ventura Figueiredo depois de uma discussão de trânsito que começou por causa de um retrovisor atingido pelo motoboy. O assassino foi denunciado por homicídio triplamente qualificado.
Para completar a matança, nesse dia 1º, em Teresópolis, o influencer Renan Rocha da Silva atropelou e matou com o seu Porsche o motociclista Adilson de Lima. Renan fugiu e um amigo bastante abnegado tentou se passar por ele.
Esses são os casos mais recentes, mas há muitos outros. Não faz muito tempo, um filhinho de papai voou com um Porsche aqui perto de casa, destruindo totalmente o carro, sem ferir ninguém.
Há três tipos de comprador de carrões como um Porsche. O primeiro é aquele genuíno admirador de carros esportivos, minoria da minoria. O segundo é aquele sujeito que acha que precisa ter Porsche como sinal de status social, a maioria. O terceiro é o completo desnaturado, que pode habitar os dois universos anteriores.
Na sua desnatureza, ele acha que ter um Porsche lhe dá direitos maiores do que os de qualquer outro cidadão. De estacionar em lugar proibido a ultrapassar qualquer limite de velocidade ou até mesmo matar o semelhante sem Porsche, como demonstram os casos citados acima.
Como não dá para proibir desnaturados de terem Porsche, a saída seria criar uma habilitação especial para quem quisesse dirigir carros com motores de potência acima do habitual. Habilitação especial que incluísse exame psicotécnico especialmente criado para detectar potenciais assassinos. Mas aí teriam de inventar a habilitação que não se compra. A Porsche continuará a ter a sua imagem manchada no Brasil, coitada.