Sobre a perda de confiança (bolsonarista) nas Forças Armadas
O nível de confiança nas Forças Armadas caiu, sobretudo, entre os eleitores de Bolsonaro no segundo turno. Elas não são golpistas
atualizado
Compartilhar notícia
A Quaest mediu a confiança dos brasileiros nas instituições, como faz regularmente. No caso das Forças Armadas, os cidadãos que dizem confiar muito passaram de 44%, em dezembro do ano passado, para 33% agora. Os brasileiros que afirmam “confiar pouco” eram 36% e hoje são 41%. Aqueles que não confiam foram de 18% para 23%.
Entre as instituições, é a queda mais íngreme. Ainda assim, é preciso que se diga, as Forças Armadas continuam a ser mais confiáveis para os cidadãos do que a Câmara e o Senado, nos quais apenas 9% dos cidadãos confiam, e os partidos políticos, com míseros 4%.
Elas também não estão longe das primeiras colocadas. A líder em confiança é a Igreja Católica, com 41%, seguida pela Polícia Militar (nos diversos estados), com 34%, mesmo percentual das igrejas evangélicas.
A erosão, no entanto, não deve ser subestimada. Revela o desgaste que Jair Bolsonaro e tudo a ele associado causou a Exército, Marinha e Aeronáutica, desgaste aumentado pela demonização das Forças Armadas que a esquerda e parte substancial da imprensa promovem, insistindo em tomar a parte pelo todo, como se os militares, na sua maioria, fossem golpistas em mais de um sentido.
Exemplo dessa demonização é a falta da devida atenção a um dado da pesquisa da Quaest, que foi tratado, quando foi tratado, como informação meramente suplementar: o nível de confiança nas Forças Armadas caiu, sobretudo, entre os eleitores que votaram em Jair Bolsonaro no segundo turno. Entre os brasileiros que votaram em Lula, praticamente não houve mudança.
Se não, vejamos. No segmento bolsonarista, vamos chamar assim, 61% afirmavam confiar muito nas Forças Armadas em dezembro de 2022. Hoje, são 40%. O grupo que dizia confiar pouco saltou de 31% para 38%, enquanto os que não confiam foram de 7% para 20%. Já entre os lulistas, também com licença jornalística, os que confiam muito saíram de 27% para 29%, os que confiam pouco eram 45% e agora são 43% e os que não confiam somam 26%, ante 25% no final do ano passado.
Ora, quantos dos que votaram em Jair Bolsonaro esperavam que os militares dessem um golpe, para evitar a ascensão de Lula? Não era a maioria, mas certamente parte relevante (de bolsonaristas realmente bolsonaristas) teria visto com bons olhos a intervenção inconstitucional, como as redes sociais deixaram entrever. Nesse caso, é legítimo supor que parcela importante da perda de confiança nas Forças Armadas deu-se justamente porque elas não foram — nem são — golpistas.
Como eu já disse, os militares perderam pela esquerda e também pela direita, por motivos opostos. Cabe-lhes recuperar o terreno perdido na democracia. Será menos árduo se o terreno não continuar a ser minado pelos intolerantes sem farda, bem mais numerosos, aliás.