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Simone Tebet, a segunda voz de uma dupla sertaneja

Desautorizada no Planejamento, resta a Simone Tebet ser o Geraldo Alckmin de Fernando Haddad. Parecer importante, sem ser de verdade

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Simone Tebet (MDB) e Lula (PT) confraternizam durante a campanha presidencial de 2022 - Metrópoles
1 de 1 Simone Tebet (MDB) e Lula (PT) confraternizam durante a campanha presidencial de 2022 - Metrópoles - Foto: Fábio Vieira/Metrópoles

Examine-se o caso da ministra do Planejamento, Simone Tebet. Qual é o primeiro atributo de um político? Saber mentir bem ou não ter vergonha de mentir mal. No fundo e na superfície, dá na mesma. Podem ser grandes mentiras, podem ser mentirinhas, podem até ser meias-verdades, mas é a mentira o oxigênio do político. Ele mente dia sim, outro também. É o que se espera de um político, é a sua função social. Quando comete o deslize de dizer a verdade, o cidadão já desconfia de cara de que o político está escondendo uma mentira — mas não é bem assim em todos os casos, como demonstra Simone Tebet.

Antes crítica contumaz do PT, Simone Tebet aderiu à campanha de Lula no segundo turno da eleição presidencial, em nome da defesa da democracia, aquela lorota eleitoral que serviu de anteparo a embarques oportunistas. Simone Tebet foi útil ao PT para vencer resistências do eleitorado de centro. Com a adesão, ganhou uma pasta na área econômica, embora o seu programa de candidata trombasse frontalmente com o de Lula, e manteve-se no noticiário, como coadjuvante.

Instalada no governo, a ministra do Planejamento é uma piscadela para o mercado, que devolve com outras piscadelas. O mercado finge gostar de governos de esquerda enquanto eles ainda tentam enganar, porque a alternativa é sempre pior.

Mas eis que a ministra agora se vê obrigada a mentir sem ter o anteparo da defesa da democracia. Lula lhe enfiou goela abaixo o soldado do petismo Márcio Pochmann na presidência do IBGE, e ela aparenta naturalidade com a ingerência no instituto que mede a inflação oficial brasileira e que está sob a alçada do Planejamento. Imagino que Simone Tebet também terá de achar muito normal se Lula colocar Guido Mantega na presidência da Vale, a gigante da mineração cuja privatização o PT não aceita de jeito nenhum. 

O Ministério do Planejamento tem importância zero para Lula, porque tudo sai mesmo é da cachola dele, mas Simone Tebet continua a interpretar sem constrangimento o papel que aceitou de bom grado (queria mesmo era ter levado o Ministério do Desenvolvimento Social, mas se submeteu docemente ao desenho lulista). Depois de ser desautorizada no IBGE, ao ser perguntada sobre a função da sua pasta no governo, ela respondeu à entrevistadora Geralda Doca:

“A escolha do presidente por uma pessoa que tem perfil mais liberal e acredita na importância das reformas já dá sinalização do papel que ele quer da ministra do Planejamento: que traga sua visão econômica, que não é necessariamente a do PT. O meu papel é apresentar as nossas ideias, discordâncias, ponderar e avançar no caminho do equilíbrio na condução da política macroeconômica. Agora, tenho convicção de que quem tem que puxar essa máquina é o Haddad, ele é o maquinista.”

Em resumo, a tarefa de Simone Tebet no governo é basicamente a de ser comentarista pouco ouvida. Na entrevista, além de dizer que o maquinista é Fernando Haddad (não é, o maquinista é Lula), Simone Tebet afirmou que, em relação ao ministro da Fazenda, ela não se incomoda “em ser a segunda voz, como numa dupla sertaneja”.

Acho que, quanto à falta de incômodo em ser a segunda voz de uma dupla sertaneja, a ministra do Planejamento diz a verdade, sem esconder nada. Se o Brasil alçar o seu habitual voo de galinha e Fernando Haddad for candidato a presidente em 2026, Simone Tebet poderá ser o seu Geraldo Alckmin. É tudo o que lhe resta desde que ela se sujeitou a Lula e ao PT: parecer importante, sem ser.

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