Redes sociais: ou a imprensa adere ou ela morre
A imprensa será obrigada a entender que as redes não são acessórias e admitirá que elas são o principal meio de transmissão de notícias
atualizado
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A pesquisa da Quaest que detectou um pequeno aumento na popularidade de Lula trouxe um dado sobre imprensa que não é exatamente uma surpresa, mas que continua a ser espantoso para um dinossauro da imprensa como eu, recém-entrado no Instagram e que ainda não tem TikTok. Um dinossauro como eu precisa explicar que imprensa é um conceito que abrange jornais, revistas, sites e portais de notícias, telejornais e noticiário radiofônico.
No quesito “hábitos de mídia”, apenas 10% dos entrevistados dizem informar-se sobre política em “sites, blogs e portais de notícias”. A maioria, 36%, afirma ser por televisão e 31% se inteira de política por meio das redes sociais.
Entre esses “sites, blogs e portais de notícias”, quantos são os sites ou portais da imprensa tradicional que servem de fonte de informação aos brasileiros? A pesquisa não tem esse dado, não era esse o seu escopo, mas é de se presumir que, como também nunca fomos grandes leitores de jornais e revistas, seja uma minoria dentro dessa outra minoria.
Se fôssemos destrinchar o número da televisão, certamente constataríamos que também é ínfima a quantidade de pessoas que se senta ao sofá todos os dias, à mesma hora, para assistir ao seu telejornal preferido, hábito que sobreviveu até o início dos anos 2000.
Hoje, quem assista a telejornal é, sobretudo, as classes C e D, que não contam com TV por assinatura e ainda tem conexões limitadas de internet lá nos cafundós do país. É por isso que os telejornais estão fazendo um jornalismo cada vez mais voltado para “o seu João e a dona Maria”.
Os canais de notícias por assinatura, por sua vez, não é que sejam um sucesso. Reunidos, eles têm o quê? Em julho do ano passado, uma ferramenta do Kantar Ibope Media mostrou que a audiência conjunta dos 5 canais brasileiros de notícias não chegava a 250 mil espectadores ao mesmo tempo.
Tendo a crer que o número de pessoas que se informa sobre política nas redes sociais está subestimado na pesquisa da Quaest. Não porque haja falha metodológica, mas porque as pessoas mentem. Olhe para você mesmo, leitor, e para o universo que o cerca, e diga com sinceridade por qual meio as notícias chegam primeiro até você e as pessoas do seu círculo?
É pelo Instagram, pelo TikTok e, bastante menos, pelo X, o antigo Twitter. Até porque as notícias provenientes de jornais e portais de informação estão reproduzidas lá, em boa parte. Por isso mesmo, acertam os poucos veículos que jogam o seu material lá (ou aqui) quase por inteiro, ao invés de ficar demonizando as redes sociais. Aliás, a única maneira eficaz de combater desinformação não é censurando, mas colocando informação verdadeira no campo em que as fake news proliferam.
Na visão deste dinossauro, chegará a hora em que a imprensa será obrigada a entender que as redes sociais não são acessórias e admitirá que elas são o principal meio de transmissão de notícias. Quando isso ocorrer, os jornais, as revistas, os portais, os telejornais, o que seja, serão redesenhados ou idealizados para o formato das redes sociais. Praticamente, migrarão para elas.
Isso demandará que Instagram, TikTok, X e o que vier a surgir se adequem para abrigar a imprensa, e que encontrem um modo de os veículos serem remunerados satisfatoriamente pelo seu conteúdo. Para a imprensa, é aderir às redes sociais ou morrer, porque o seu João e a dona Maria também vão para lá.