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Presos com Lula na varanda do pum

Ao falar e agir na Presidência como se estivesse na sua varanda do pum, Lula comete um ato de apropriação indébita. Não é nada engraçado

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1 de 1 imagem colorida presidente lula sanciona Minha Casa Minha Vida, com bandeira do Brasil e brasão da República ao fundo - Metrópoles - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

A grande imprensa ignorou a fala de Lula sobre “a varanda do pum”. Ao sancionar as novas regras do programa Minha Casa Minha Vida, ele defendeu que as casas dos pobres tivessem varanda, porque “tem dia que o cidadão não tá bom do intestino… Ele… Fazer a varanda do pum. O cara vai lá fora, não fica dentro de casa, fazendo as coisas”.

A idade avançada torna mesmo a língua mais solta, o cidadão se sente mais livre para emitir flatulências verbais, já que não tem muito mais a perder, mas Lula nunca teve controle sobre os seus gases (estou sendo metafórico). O longínquo passado operário lhe deu passe livre vitalício para corromper as formalidades da linguagem para muito além da sintaxe. O que é indesculpável em Jair Bolsonaro é perdoável em Lula e até desejável, porque lhe conferiria aquela autenticidade proletária que faz as pernas das sociólogas da USP ficarem bambas.

É pitoresco que se atribua autenticidade ao que é manifestação de ignorância, de falta de educação e de ausência de compostura. Ou que se atribua autenticidade ao que é admissível em mesa de bar ou em vestiário, mas não é tolerável em cerimônia oficial, com a bandeira do Brasil e o brasão da República ao fundo. Por que a formalidade mínima exigida de um presidente em cerimônias oficiais seria menos autêntica do que a informalidade de quando ele está na pessoa física? De qual autenticidade estamos falando?

Ser autêntico é ser verdadeiro. Mas qual é a verdade de um presidente que fala em varanda do pum numa cerimônia oficial, afora ser manifestação de ausência de modos? Resposta: a verdade é a que ele não vê fronteira nenhuma entre o seu papel público e a sua dimensão pessoal.

O papel público tem margem para certa espontaneidade, ou um presidente não teria personalidade, mas essa margem é pequena e o excesso deve ser sacrificado na liturgia da impessoalidade institucional. Mesmo em um país informal, a formalidade da linguagem é o registro adequado e necessário a uma instituição como a presidência da República, que está acima da pessoa que a ocupa temporariamente e que não é sua propriedade privada, com o perdão do trocadilho voluntário.

Um presidente que age e fala como se estivesse na sua própria varada do pum comete um ato de apropriação indébita. Ao fim e ao cabo, as flatulências verbais de Lula são um barulho feio do patrimonialismo, esse mal brasileiro secular, agora na versão do operário que chegou lá. O atual presidente é autêntico, sim, mas nessa visão patrimonialista de que, se o governo é seu, ele pode fazer o que bem entender. A única diferença em relação a todos os patrimonialistas precedentes que nos governaram, à exceção de Jair Bolsonaro, que foi aluno seu nesse aspecto, é que Lula corrompe também o discurso presidencial, usando o passe livre do passado operário para dele fazer uso indevido. Não há nada de engraçado nisso. Estamos presos com Lula na varanda do pum. É trágico.

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