Piano ao cair da tarde: faço um apelo a Lula
Presidente Lula, por favor, faça logo as pazes com o ministro Dias Toffoli. A amizade não tem preço. Quer dizer, tem, e está saindo caro
atualizado
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Eu gostaria de fazer um apelo a Lula: por favor, presidente, reconcilie-se logo com o ministro Dias Toffoli. Até o momento, o estranhamento entre o senhor e o seu ex-advogado-geral já custou 18,8 bilhões de reais.
Esse é o valor somado das multas dos acordos de leniência da JBS e da Odebrecht (atual Novonor) que o ministro anulou em decisões monocráticas. De acordo com as jornalistas Monica Gugliano e Vera Rosa, políticos de oposição afirmam que as decisões de Dias Toffoli contra o que foi firmado nos acordos de leniência visam a agradar Lula, condenado no âmbito da Lava Jato.
As amizades valem ouro, eu sei, mas principalmente em sentido metafórico, não literal — e quando o ouro é de verdade entre amigos, nunca deveria ser o alheio, mas o próprio. Essa é uma das belezas da amizade.
O meu amigo francês Michel de Montaigne, que de vez em quando deixa o século XVI para me visitar, abordou lindamente a questão pecuniária entre amigos no ensaio Sobre a Amizade. Vai contra o senso comum.
Ele escreveu que, em uma relação de amizade, quem empresta é quem mais se beneficia, pois quem pegou emprestado lhe dá a ocasião de satisfazer o seu desejo de fazer o bem ao amigo. Para ilustrar o seu ponto, Montaigne cita o caso do filósofo grego Diógenes.
Quando Diógenes estava sem dinheiro, ele dizia que resgataria dos seus amigos, não que lhes pediria. Só não se sabe se Diógenes tinha tantos amigos dispostos a lhe dar dinheiro.
De acordo com o historiador Plutarco, depois que os gregos reunidos em Corinto decidiram entrar em guerra contra os persas sob o comando do macedônio Alexandre (que ainda não era O Grande), muito filósofos e escritores foram cumprimentar o Xandão da Antiguidade.
Alexandre esperava que Diógenes estivesse entre os bajuladores, mas se viu frustrado na expectativa. Ele, então, foi até o filósofo e o encontrou deitado ao sol. “Você precisa de algo?”, perguntou Alexandre. “Só que você saia um pouco da frente do sol”, respondeu Diógenes.
O Xandão da Antiguidade ficou tão admirado com atitude de Diógenes, que disse aos companheiros de armas: “Se eu não fosse Alexandre, gostaria de ser Diógenes”. Mas, dada o seu mau gênio, talvez o filósofo tenha encontrado alguma dificuldade em conseguir dinheiro entre os mortais mais comuns do que Alexandre.
Fui até a Grécia de 2.300 anos atrás, depois de passar pela França do século XVI, para voltar ao Brasil de 2024. Renovo meu apelo: Lula, reconcilie-se logo com Dias Toffoli. Amizade não tem preço. Quer dizer, tem.