PCC: a quem não interessa combater o crime organizado?
As autoridades batem tanto a cabeça no enfrentamento ao PCC e ao CV, que fica a dúvida se é por incompetência ou por falta de interesse
atualizado
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A lavagem de dinheiro é o crime que coroa o sucesso da corrupção, perpetrada por organizações criminosas políticas, e do tráfico de drogas, levado a cabo por máfias como o PCC e as dezenas de outras associações de malfeitores em ação no Brasil.
É fatal que, em algum momento, para ampliar os negócios, as máfias aproveitem-se do esgarçamento institucional causado pelas organizações criminosas políticas e se infiltrem entre elas, ocupando cargos e cooptando atores nos poderes do Estado.
Esse filme está em cartaz no Brasil, principalmente em São Paulo, berço do PCC. Em paralelo à expansão da sua rede de lavagem de dinheiro, constituída por postos de gasolina, empresas de ônibus, incorporadoras imobiliárias, garimpo e operações financeiras com criptomoedas, a máfia paulista incorporou elementos da política.
O caso do delator Antônio Vinicius Gritzbach, executado no aeroporto internacional de Guarulhos pelo PCC, do qual foi sócio e do qual teria mandado matar um dirigente, revelou ao público que policiais civis e militares também fazem parte desse universo de podridão. Como mostrou a sucursal paulista do Metrópoles, Antônio Vinicius Gritzbach citou diversos agentes, entre delegados e investigadores, que fariam parte de uma rede de extorsão que o teria vitimado.
Além disso, os policiais militares que escoltavam o delator no momento em que ele foi abatido a tiros de fuzil são suspeitos de ser cúmplices da execução (escolta privada, visto que Antonio Vinicius Gritzbach dispensou a proteção que lhe foi oferecida pelo Ministério Público). Fato surpreendente: esses policiais militares já eram investigados pela corregedoria da PM, segundo o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite.
Depois da execução de Antonio Vinicius Gritzbach no aeroporto, a secretaria criou uma força-tarefa para apurar o crime, chefiada pelo secretário-executivo da pasta, Osvaldo Nico Gonçalves, o delegado Nico, que atuou em casos célebres.
Ele tem uma rede de restaurantes na capital paulista. A sua família atua no ramo, igualmente. O irmão do delegado foi expulso da Polícia Civil, em 2021, acusado de esquentar carros roubados. A expulsão foi anulada sob o argumento de que, como Nico participou da votação do processo administrativo que resultou na punição, isso configurava conflito de interesses.
Em abril do ano passado, em declaração feita à Controladoria-Geral do Estado, o patrimônio do delegado Nico era de R$ 12,3 milhões. No ano passado, ele foi cotado para ser vice na chapa de Ricardo Nunes, que acabaria reeleito à prefeitura de São Paulo.
Voltando ao quadro mais geral, quando eu era correspondente baseado em Paris, há mais de dez anos, fiz uma reportagem sobre o gigantesco esquema de lavagem de dinheiro operado pelas máfias italianas no norte da Europa. O esquema tinha tantas ramificações nos mais diversos setores da economia cotidiana, que chamou a atenção da Comissão Europeia.
Uma investigação foi levada a cabo e, em outubro de 2013, o Parlamento Europeu reconheceu, pela primeira vez, a necessidade de combater as máfias em nível supranacional. No Brasil, o crime organizado precisaria ser enfrentado em coordenação nacional, visto que o PCC e também o CV carioca agem em vários estados e contam com conexões internacionais. Mas as autoridades batem tanto a cabeça, que fica a dúvida: é só por incompetência ou será que não interessa combater o crime organizado? A policiais bandidos, certamente não interessa.