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O tuíte de Lula e o soldado russo obrigado a beber água de poça

No mesmo dia em que o presidente eleito publica que trocou gentilezas com Putin, vêm à tona mais conversas sobre o inferno russo na Ucrânia

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Presidente da Rússia, Vladimir Putin, faz gesto enquanto fala em evento - Metrópoles
1 de 1 Presidente da Rússia, Vladimir Putin, faz gesto enquanto fala em evento - Metrópoles - Foto: Mikhail Svetlov/Getty Images

Lula postou hoje no Twitter que trocou amabilidades com Vladimir Putin:

“Conversei hoje com o presidente russo Vladimir Putin, que me cumprimentou pela vitória eleitoral, desejou um bom governo e o fortalecimento da relação entre nossos países. O Brasil voltou, buscando o diálogo com todos e empenhado na busca de um mundo sem fome e com paz.”

A Rússia de Vladimir Putin já vinha sendo muito bem tratada pelo governo de Jair Bolsonaro, tanto nas relações bilaterais como nos fóruns multilaterais, por causa principalmente da nossa dependência de fertilizantes, um dos novos ouros de Moscou. O princípio da realidade comercial deve ser observado, sem dúvida. Mas o pragmatismo indissociável das relações internacionais de um país periférico como o Brasil não significa, contudo, que se deve ser complacente com Vladimir Putin, ou até seu amiguinho, como se ele fosse um presidente estrangeiro igual a qualquer outro.

Sejamos tão claros quanto redundantes: Vladimir Putin é um tirano facinoroso, que invadiu um país vizinho, a Ucrânia, a pretexto de combater “nazistas” e reviver o império soviético. A sua estratégia global é disseminar o caos nas fronteiras e também no interior dos países ocidentais, cujos valores democráticos ele abomina e quer ver cancelados. 

Assim como Jair Bolsonaro, Lula não entendeu nada do que está ocorrendo neste momento na Europa. Em maio, ainda pré-candidato, o petista causou espanto ao dizer, em entrevista à revista americana Time, que o presidente ucraniano Volodymir Zelenski era tão culpado pela guerra quanto Vladimir Putin. Antes disso, em março, Lula havia afirmado o seguinte, num evento na Uerj: “Essa guerra por tudo que eu compreendo, leio e escuto seria resolvida aqui no Brasil numa mesa tomando cerveja, se não na primeira, na segunda, se não na terceira, se não desse na terceira ia até acabar as garrafas para um acordo de paz”.

Lula pode resolver os seus conflitos com Arthur Lira na base da cerveja paga pelo pagador de impostos, mas não deveria fazer graça com a tragédia que se abateu sobre o povo ucraniano, por obra de um déspota não menos do que cruel, inclusive com o próprio povo. Vladimir Putin está mandando a juventude do seu país para o matadouro. Até novembro, os Estados Unidos estimavam que 100 mil soldados russos haviam morrido na Ucrânia, número igual ao de soldados ucranianos que teriam perdido a vida para o inimigo. O número de civis mortos, segundo os americanos, alcançava 40 mil. 

Vladimir Putin, que planejava apagar a existência da Ucrânia como país em fevereiro, quando a invadiu, por meio de uma guerra-relâmpago, tem na Rússia um gigante de pés de barro incapaz de atender a suas ambições imperialistas. Armados pelo Ocidente e dotados de coragem e capacidade de organização, as forças ucranianas enfrentam um inimigo sem motivação, com equipamentos obsoletos e desprovidos de logística suficiente para fazer frente às suas necessidades mínimas.

No mesmo dia em que Lula publicou o seu tuíte sobre a conversa cordial com Vladimir Putin, o jornal britânico The Guardian divulgou conversa telefônicas de soldados russos que estão no fronte, captadas pelos ucranianos. Os diálogos mostram o extremo grau de penúria dos invasores. Numa das conversas, um jovem diz à sua mãe: “Ninguém nos dá de comer, mamãe. Nossas provisões são realmente uma merda. Nós pegamos água de poças, filtramos e bebemos”. A mãe, então, responde: “Que pesadelo, onde eu posso reclamar?”. O seu filho diz: “Em lugar nenhum. É só na televisão que tudo está indo bem”.

Em outro diálogo, um soldado russo diz à sua mulher: “Estou num saco de dormir, encharcado, e constantemente extenuado”. É de se imaginar o que todos eles passarão quando chegar o inverno. Desde já, o Leste da Europa está sob temperaturas glaciais e neve durante boa parte do tempo.

Não é a primeira vez que os ucranianos divulgam conversas telefônicas de inimigos desesperados com a sua situação precária — o que tem objetivo propagandístico, mas nem por isso mentiroso. No início de dezembro, o jornal americano The New York Times divulgou conversas nas quais soldados russos dizem que estão sendo bombardeados pela própria artilharia. A interceptação é facilitada porque eles usam celulares comuns, sem nenhuma segurança, para falar com as suas famílias. É outro sinal do grau de insubordinação e improvisação das forças de Vladimir Putin.

A Rússia é comandada por um tirano que usa jovens do seu país como bucha de canhão, tenta exterminar a juventude da Ucrânia e comete crimes de guerra contra a população civil. Seja sob Jair Bolsonaro, seja sob Lula, o Brasil não pode ser cúmplice da barbárie. O total pragmatismo é o primeiro refúgio dos infames.

PS: Volodymyr deve chegar aos Estados Unidos amanhã, naquela que será a sua viagem internacional desde o início da guerra. Ele falará ao Congresso americano.

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