O STF não nasceu para ser popular. Nem para ser impopular
O dado de que quase 50% das pessoas acreditam que o país vive sob uma ditadura do Judiciário deveria tirar o sono dos ministros do tribunal
atualizado
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O STF não nasceu para ganhar campeonato de popularidade. O seu papel é defender que a Constituição seja observada nas decisões do Executivo, do Legislativo e do próprio Judiciário, sem se preocupar com a opinião de ninguém.
Tudo bem, mas o STF também não nasceu para ganhar campeonato de impopularidade. E ele está ganhando. A pesquisa da AtlasIntel que foi divulgada na sexta-feira passada deveria tirar o sono dos ministros do tribunal. Ela trouxe o dado de que 47,3% dos entrevistados acreditam que o Brasil vive sob uma ditadura do Judiciário — do Supremo, claro.
Outra parte, 16,7%, não concorda que estejamos sob o tacão autoritário dos juízes, mas pensa que muitos deles cometem abusos e ultrapassam as suas atribuições. Isso quer dizer que 64% dos entrevistados não estão gostando, em maior ou menor grau, com os rumos que o Judiciário tomou nos últimos tempos.
Apenas 20,9% dos que responderam à AtlasIntel são de opinião de que os nossos juízes estão cumprindo o seu papel corretamente. Muito pouco.
Os entrevistados que optaram pelo “não sei” foram 15,7%. Será que não sabem de verdade ou tiveram medo de responder?
Creio ser uma dúvida razoável. Ainda mais agora, que ninguém mais tem o direito de chamar poderoso de ladrão, safado, vagabundo, mesmo que o alvo dos xingamentos seja ladrão, safado, vagabundo.
Se você não pode chamar poderoso de tudo quanto é nome, como confiar que a democracia não vai enfiá-lo na cadeia se você disser realmente o que pensa?
A pesquisa da AtlasIntel foi feita na esteira da operação da PF contra Jair Bolsonaro e sequazes, no último dia 8. De qualquer forma, o seu resultado não seria muito diferente se tivesse sido realizada antes. No mundo real, com o qual a imprensa nativa tem cada vez menos conexão, o desconforto com o Judiciário é evidente.
Eu recomendaria que os ministros do STF não se admirassem no espelho que os jornais lhes mostram, o de salvadores da democracia. Sem esse espelho, os ministros não seriam levados a pensar que estão ganhando campeonato de popularidade (e eles não existem para ser populares) quando é o contrário que ocorre (e eles também não existem para ser impopulares).