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O que é ser um pai?

Neste Dia do Pais, proponho a que questão: o que é ser um pai? É uma pergunta cuja resposta é óbvia somente do ponto de vista biológico

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Imagem Ilustrativa - Pai e filho se abraçando
1 de 1 Imagem Ilustrativa - Pai e filho se abraçando - Foto: Getty Imagens

Neste Dia do Pais, proponho a que questão: o que é ser um pai? É uma pergunta cuja resposta é óbvia somente do ponto de vista biológico: é um homem que tem um filho ou mais de um filho.

Só que nós, humanos, não somos um simples fato biológico. Por favor, não pense que vou entrar nessas discussões de gênero aborrecidas que ocorrem hoje. Não. O assunto é aqui é de ordem antropológica e psicológica.

O que nos diferencia dos outros mamíferos que habitam este belo e maltratado (por nós) planeta é que fomos produzidos pela cultura, por sua vez construção infindável e magnífica do nosso cérebro, máquina cujo desenho começou a ser delineado pela evolução dos primeiros hominídeos há cerca de 160 mil anos.

Uma vez homens e mulheres, no Neolítico, a cultura nos permitiu descobrir o fogo e, principalmente, a utilidade do fogo. A cultura fabricou instrumentos de metal, nos tirou das cavernas, criou a agricultura, ergueu cidades, fez a arte, impulsionou a tecnologia ao ponto de hoje de estarmos com receio de o nosso cérebro ser substituído por uma projeção dele: a inteligência artificial.

A cultura criou o pai. Se uma mãe é fato biológico, está na sua natureza gerar, nutrir, defender e amar a sua cria, tanto quanto ser amado por ela, o mesmo não ocorre com um pai.

Biologicamente, nós, homens, somos apenas dispersores de nossos próprios genes. Sermos pais em uma família, sermos pais que nos dedicamos a nossos filhos, é uma conquista cultural.

Como toda grande conquista, o pai é sujeito difícil. Em Totem e Tabum, do genial Charlatão de Viena, havia uma horda primitiva na qual o pai devorava os filhos. Os filhos se uniram para matar o pai e criaram o tabu do incesto, a base da sociedade civilizada. Passaram, então, a reverenciar o pai que mataram, no remorso necessário para a continuidade de nossa história. O corolário psicológico é que se tratará sempre, dentro de cada um de nós, como filho, de superar o pai e, assim, de sermos pais a ser superados pelos nossos filhos.

O pai é uma conquista cultural a ser realizada a cada vez que ele gera um filho. Um pai precisa vencer o seu papel biológico de mero dispersor dos próprios genes, dedicar-se a uma única prole e tentar ser amado por ela, em um amor que não nasce naturalmente como o de uma mãe em relação ao filho — e o do filho em relação à mãe.

Não há nada de visceral no amor paterno. Ele se constrói como a cultura que o criou, sem garantia de sucesso no final. Pense nisso, você que é pai, e se encha de alegria e orgulho se você conseguiu o amor de um filho. Pense nisso, filho, na dificuldade do seu pai para amá-lo, contrariando a natureza, e lhe dê um beijo, um beijo agradecido, se ele fez por merecer nem que seja um pouco do seu amor.

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