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O padre Lancellotti não seria uma ovelha desgarrada da Igreja

A Arquidiocese de São Paulo vai investigar o padre Lancellotti por causa do vídeo da masturbação. Mas o padre faz parte de um grande rebanho

atualizado

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1 de 1 Imagem colorida mostra Padre Julio Lancellotti - Metrópoles - Foto: Redes sociais/Reprodução

A Arquidiocese de São Paulo desistiu de abafar o caso e abrirá uma investigação sobre o padre Júlio Lancellotti. Mais especificamente, sobre o vídeo em que ele apareceria se masturbando para um menor de idade. 

“A recente divulgação de laudos periciais com resultados contraditórios e a notícia de um suposto novo fato de abuso sexual envolvendo o referido sacerdote requerem uma nova investigação da parte da Arquidiocese para a busca da verdade”, disse a Arquidiocese, em nota.

No vídeo acompanhado de troca de mensagens picantes, as feições são do padre e o cenário é a casa do padre. Uma perícia não oficial foi feita e confirmou que o masturbador seria Júlio Lancellotti, mas ele insiste em dizer que não é ele. Quem o defendia já não o defende mais com tanto vigor, e a decisão da Arquidiocese deu fôlego à CPI na Câmara Municipal paulistana que tem como alvo a atuação política do padre.

Santo da esquerda brasileira, o padre Júlio Lancelloti tem uma história enrolada com menores de idade. Como escrevi aqui quando o vídeo veio à tona, “em 2007, o padre viu-se envolvido em um caso de extorsão. Chegou a dar uma Pajero a um ex-interno da Febem que dizia ter tido uma relação amorosa com ele, o que configuraria crime de pedofilia. Embora tenha cedido ao chantagista que acabou preso, o padre sempre negou qualquer envolvimento pretérito com o rapaz”.

O padre Júlio Lancellotti não seria uma ovelha desgarrada da Igreja. Faria parte de um grande rebanho. Durante quatro anos, o jornalista, escritor e sociólogo francês Frédéric Martel investigou a homossexualidade no clero católico. Entrevistou dezenas de cardeais e centenas de padres. O resultado é o livro Sodoma, Investigação no Coração do Vaticano. O autor constatou que a Igreja não é apenas hipócrita, mas esquizofrênica.

O Vaticano condena a homossexualidade, mas grande parte dos padres, se não a maioria, é homossexual. O próprio papa Francisco já disse que “a homossexualidade no clero é uma questão muito séria que me preocupa”.

Não há nada de errado em ser homossexual, mas o celibato imposto pela Igreja acabou atraindo para a vida sacerdotal uma enorme quantidade de homens gays que tentam esconder a sua sexualidade — homens gays que não têm como dar vazão ao seu desejo, o que leva muitos deles a cometer abusos, o que não significa que haja justificativas aceitáveis para esse crime. Padres heterossexuais também fazem o mesmo. 

Todos são protegidos pela “cultura do segredo”, diz Fréderic Martel, “necessária para manter o silêncio sobre a forte presença da homossexualidade na Igreja”, o que “permitiu esconder os abusos sexuais e aos predadores de se beneficiar desse sistema de proteção com o conhecimento da instituição”.

 O Vaticano é hoje uma das maiores comunidades gays do mundo, segundo o autor de Sodoma. Ele pergunta: “O papa e os seus teólogos liberais se deram conta de que o celibato dos padres fracassou? De que se tratava de uma ficção? Eles perceberam que a batalha empreendida por João Paulo II e Bento XVI contra os gays foi uma guerra que já estava perdida desde o início? E ela se voltou contra a Igreja na medida em que as suas motivações reais ficaram claras: uma guerra entre gays no armário contra gays assumidos!”

Imagino que “cultura do segredo” deverá ter peso na investigação promovida pela Arquidiocese de São Paulo.

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