O modelo de imprensa do PT é o cubano
Breves considerações sobre a grosseria do ministro-chefe da Secom com jornalistas de uma emissora de TV que ousaram criticar Lula
atualizado
Compartilhar notícia
Na semana passada, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Paulo Pimenta, entrou ao vivo no CNN Arena. Estava incomodado com os comentários de participantes do programa sobre um tuíte seu, no qual ele justificava o injustificável: a declaração de Lula sobre a operação da PF contra o PCC, que frustrou o plano de matar Sergio Moro, ser uma “armação” do ex-juiz da Lava Jato.
Paulo Pimenta deu a entender, inicialmente, que não havia sido convidado pelo programa para defender o seu ponto de vista. Foi informado de que fora, sim, mas que a sua assessoria havia declinado. O ministro, então, fez como se não fosse com ele e defendeu o indefensável.
Confrontado com os fatos expostos por Raquel Landim, que contrariavam a sua defesa do indefensável, ele perguntou ironicamente se ela era jornalista. Raquel Landim respondeu calmamente que era jornalista formada pela Universidade de São Paulo. Paulo Pimenta não saiu de cima do trator, disse que também era jornalista formado pela Universidade Federal de Santa Maria — e continuou a defender o indefensável. Entende-se: como jornalista, ele é um excelente técnico agrícola, a outra especialidade sua.
Incomodado com as críticas à grosseria que cometeu contra Raquel Landim, e também porque ela lhe perguntou sobre a omissão de uma casa na sua declaração de bens à Justiça Eleitoral, Paulo Pimenta foi para o Twitter. Com muita elegância e ainda mais graça, escreveu que não teve intenção de ofender ou desqualificar, mas que se manifestou “de forma mais contundente para mostrar que a forma como a bancada do programa da CNN agia, com acusações e agressões ao Presidente Lula, em nenhum momento lembrava um debate e sim uma inquisição”.
É mentirinha televisionada, já que em inquisições não há lugar para o contraditório e dois participantes daquele dia são lulistas de carteirinha. Está no Youtube, pode ver. Um deles é a advogada Gabriela Araújo, que faz parte do time fixo do programa; o outro é o ator Pedro Cardoso, o convidado bem-educado que, no ar, detonou a emissora e os seus jornalistas.
Não contente com a detonação ao vivo, o ator afirmou, em texto nas redes sociais, que Felipe Moura Brasil, apresentador da atração, e Raquel Landim eram “publicitários da ideologia do patrão” e que o programa era “uma armadilha intelectual, como a imensa maioria dos similares”. Tudo isso para defender Paulo Pimenta: “concordo que seja indelicado, e mesmo agressivo, perguntar a um jornalista se ele é jornalista. Mas, vejam, o jornalismo profissional brasileiro está merecendo que a pergunta lhe seja feita” . Aparentemente, Pedro Cardoso não estava interpretando o papel de Carlos Bolsonaro preso numa armadilha intelectual.
A parte mais pitoresca, no entanto, foi quando o ator disse que “quando vejo jornalistas indignados com a indelicadeza do ministro, preferiria vê-los falando sobre as pressões ideológicas que sofrem dos seus empregadores. Mas jornalistas não gostam de falar de seus patrões. O desemprego chega rápido para quem fala”. Para quem não fala, o desemprego também pode chegar, mas devagar: Pedro Cardoso foi demitido da Rede Globo, sem constar que ele tenha criticado os seus patrões em público nos longos anos em que esteve empregado.
Para completar o quadro burlesco da grande família partidária, Paulo Pimenta retuitou Pedro Cardoso, apesar de ter dito que não quis ofender ou desqualificar a jornalista contra a qual cometeu uma grosseria. Paulo e Pedro, Pedro e Paulo, religiosamente uma dupla do barulho. O ministro, imagino, imprimirá essa linha editorial na “rede da verdade” petista, o tal portal “Brasil contra Fake”, lançado pela Secom para responder às “principais fake news envolvendo o governo federal”.
Eu observo a situação aqui do meu cantinho e me pergunto se o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, dono do orçamento de publicidade da administração pública federal, vai se comportar como aquele seu antecessor da época do mensalão. Aí deixaria de ser engraçado. O comissário do povo patrocinou blogs sujos petistas com dinheiro público, cortou anúncios de veículos incômodos ao governo e, dia sim, o outro também, pedia a cabeça de editores e repórteres independentes a donos de jornais e revistas.
Pode se repetir? Pode. Não sei o que ensinaram ao jornalista Paulo Pimenta na Universidade Federal de Santa Maria, mas sei o que o ministro Paulo Pimenta aprendeu no Partido dos Trabalhadores, cujo modelo de imprensa, vamos deixar de lero-lero, é o cubano. Se tudo na Cuba castrista é bom espelho para o PT, por que a imprensa de lá não seria?
A imprensa castrista é uma imprensa livre, companheiro. Livre do PIG, o “partido da imprensa golpista”. Livre para lamber as botas do governo. Livre para vender os secos e molhados do governo. Livre, enfim, para ter no governo o grande, o bondoso, o generoso, o incriticável, o irremovível, o definitivo, o único e libertador patrão.