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O messianismo da Lava Jato é apenas a outra face da nossa fatalidade

Não há inversão nenhuma de valores no ataque à Lava Jato, porque não é verdade que somos um país da integridade. Nunca fomos e nunca seremos

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Foto colorida mostra o ex-deputado federal Deltan Dallagnol - Metrópoles
1 de 1 Foto colorida mostra o ex-deputado federal Deltan Dallagnol - Metrópoles - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Anteontem, Deltan Dallagnol despediu-se irremediavelmente da Câmara dos Deputados, depois que os seus agora ex-pares confirmaram a decisão do TSE de cassar o mandato do ex-procurador da Lava Jato. O próximo a ser saído, dizem inimigos do senador, será Sergio Moro, cujas contas de campanha estão sendo questionadas, enquanto a sua imagem vai sendo erodida meticulosamente a cada dia, num arco que vai das redes sociais ao Judiciário, passando pela imprensa — e pela autoerosão política do ex-juiz.

A tarefa é  impingir-lhe a pecha de torturador, chantagista e corrupto. Anteontem também foi concedido um habeas corpus a um criminoso condenado e foragido, para que possa vir ao Brasil e falar presencialmente a deputados sobre supostas desonestidades de Sergio Moro. O criminoso condenado e foragido tem requentado denúncias vazias, mas agora promete revelar provas que, curiosamente, jamais foram apresentadas ao longo dos anos. Se não mostrar prova cabal, o criminoso condenado e foragido terá obtido habeas corpus para difamar e caluniar um senador da República. Mas o mais provável é que qualquer coisa sirva como prova, porque o que se quer é pretexto.

Na sua última e patética ida à Câmara, depois de ter sido achincalhado por dois deputados petistas que lhe deram “tchau, tchau”, Deltan Dallagnol disse a jornalistas que “a gente é um país em que está acontecendo uma inversão de valor. A gente é um país da integridade”.

Não há inversão nenhuma de valores, porque não é verdade que somos um país da integridade. Nunca fomos e nunca seremos, sinto dizer. O princípio da moralidade na administração pública é inexistente desde a colonização portuguesa. Não passa de discurso decorativo. O que deveria ser público é privativo de poucos, o patrimonialismo constitui o Estado, a cobiça forja a nação.

A história causou a patologia, forneceu o diagnóstico e pronunciou o veredicto. O messianismo da Lava Jato, na sua tentativa de transformar o Brasil naquilo que ele não é, um país de moralidade anglo-saxônica ou, pelo menos, de moralidade latino-tropical menos dúctil, é a outra face do fatalismo que nos amaldiçoa, pincelado por visões edênicas enganadoras. O quadro geral sempre foi o de dissolução, ferocidade, ignorância, rapacidade. Tais são os valores imanentes do caráter nacional, seja à direita ou à esquerda. Não está havendo inversão nenhuma, assistimos apenas à continuidade do nosso destino.

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