metropoles.com

O jornalista e o juiz

Ser jornalista — jornalista de verdade — é viver em embate com diversos poderes. Mas havia em quem se confiar para defender a liberdade

atualizado

Compartilhar notícia

Ed Alves/Imagem cedida ao Metrópoles
2 Colocado Categoria Fotojornalismo - Edvaldo Alves Chaves
1 de 1 2 Colocado Categoria Fotojornalismo - Edvaldo Alves Chaves - Foto: Ed Alves/Imagem cedida ao Metrópoles

Ser jornalista — jornalista de verdade, não funcionário de armazém de secos e molhados — é viver em permanente embate com o poder, entendido em seu espectro mais amplo.

O poder político é o mais evidente, mas há outros poderes: o poder econômico, o poder policial e até o poder artístico. Há também o poder militar, mas ele se manifesta só nos regimes de exceção, confundindo-se com o poder político ou o usurpando.

Nenhum poder gosta de ser criticado e muito menos investigado. Todos eles contam com instrumentos para pressionar e intimidar. Até certo ponto, é do jogo, e cabe aos donos e diretores dos veículos de imprensa defender a liberdade que lhes é garantida pela Constituição Federal, bem como a seus subordinados, e modular os espíritos tanto externa como internamente.

Nos meus quarenta anos carreira, boa parte deles na cúpula daquela que foi uma grande revista e na condição de dono de sites, tive momentos bastante tensos no embate com os diversos poderes. Mas havia outro poder que, no seu topo, sempre entrava como árbitro confiável: o poder judicial.

A imprensa podia confiar nos juízes brasileiros das instâncias superiores para conter a impetuosidade vingativa dos outros poderes, para desfazer arbitrariedades cometidas por juízes das instâncias inferiores — e também para punir com senso de proporção as faltas cometidas pelos próprios jornalistas.

Infelizmente, a imprensa não pode contar mais com o poder judicial para defender aquele que é o pão do jornalismo: a liberdade de expressão. Pelo contrário, o que se tem hoje são juízes que usam a caneta para cercear e censurar a livre circulação de notícias e opiniões, que pedem a cabeça de jornalistas incômodos, que ameaçam donos e diretores de veículos de imprensa e que intimidam abertamente repórteres. O argumento público — e absurdo — é que se trata de defender a democracia.  O autoritarismo tem ares absolutistas: o  Estado sou eu, a democracia sou eu.

Nunca tinha assistido a fenômeno semelhante. Não sei quando isso vai acabar, mas sei que um dia acaba — e quem hoje é ameaçado deixará o seu testemunho para a história.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comMario Sabino

Você quer ficar por dentro da coluna Mario Sabino e receber notificações em tempo real?