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O jornalista e o juiz

Ser jornalista — jornalista de verdade — é viver em embate com diversos poderes. Mas havia em quem se confiar para defender a liberdade

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Ser jornalista — jornalista de verdade, não funcionário de armazém de secos e molhados — é viver em permanente embate com o poder, entendido em seu espectro mais amplo.

O poder político é o mais evidente, mas há outros poderes: o poder econômico, o poder policial e até o poder artístico. Há também o poder militar, mas ele se manifesta só nos regimes de exceção, confundindo-se com o poder político ou o usurpando.

Nenhum poder gosta de ser criticado e muito menos investigado. Todos eles contam com instrumentos para pressionar e intimidar. Até certo ponto, é do jogo, e cabe aos donos e diretores dos veículos de imprensa defender a liberdade que lhes é garantida pela Constituição Federal, bem como a seus subordinados, e modular os espíritos tanto externa como internamente.

Nos meus quarenta anos carreira, boa parte deles na cúpula daquela que foi uma grande revista e na condição de dono de sites, tive momentos bastante tensos no embate com os diversos poderes. Mas havia outro poder que, no seu topo, sempre entrava como árbitro confiável: o poder judicial.

A imprensa podia confiar nos juízes brasileiros das instâncias superiores para conter a impetuosidade vingativa dos outros poderes, para desfazer arbitrariedades cometidas por juízes das instâncias inferiores — e também para punir com senso de proporção as faltas cometidas pelos próprios jornalistas.

Infelizmente, a imprensa não pode contar mais com o poder judicial para defender aquele que é o pão do jornalismo: a liberdade de expressão. Pelo contrário, o que se tem hoje são juízes que usam a caneta para cercear e censurar a livre circulação de notícias e opiniões, que pedem a cabeça de jornalistas incômodos, que ameaçam donos e diretores de veículos de imprensa e que intimidam abertamente repórteres. O argumento público — e absurdo — é que se trata de defender a democracia.  O autoritarismo tem ares absolutistas: o  Estado sou eu, a democracia sou eu.

Nunca tinha assistido a fenômeno semelhante. Não sei quando isso vai acabar, mas sei que um dia acaba — e quem hoje é ameaçado deixará o seu testemunho para a história.

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