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O gesto obsceno de Cristina Kirchner é sinal do que Milei enfrentará

É, mais do que falta de decoro, sinal de que a esquerda peronista fará o diabo para Milei fracassar. A aposta é na síndrome de abstinência

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Foto colorida do momento em que Cristina Kirchener faz gesto obsceno ao ser vaiada em posse de Milei -- Metrópoles
1 de 1 Foto colorida do momento em que Cristina Kirchener faz gesto obsceno ao ser vaiada em posse de Milei -- Metrópoles - Foto: Reprodução

A maluquice de Javier Milei era só marketing para vender a sua lucidez? Essa é a pergunta de fundo e também de superfície sobre o recém-empossado presidente da Argentina, diante da normalidade com a qual ele vem agindo até agora, seja nas suas declarações, seja nas suas nomeações para os ministérios cujo total ele fez muito bem em encolher (a nota negativa foi revogar a regra contra a nomeação de parentes para dar cargo à irmã).

Seria muito salutar para o futuro da direita latino-americana, mas não só, que Javier Milei conduzisse o seu mandato presidencial com a sobriedade e a racionalidade possíveis a um político que se elegeu com o slogan “libertad, carajo!”, e que, logicamente, a sua atitude e as suas medidas fossem coroadas de êxito econômico e social na Argentina.

Um Javier Milei contido e bem-sucedido mostraria à direita dos outros países do subcontinente que, uma vez eleito, o político pode despir-se da sua persona eleitoral, pelo menos no que ela tem de mais deletéria, para tornar-se um presidente firme nos propósitos que realmente interessam ao país, mas prudente nas decisões e conciliador na medida do possível.

A questão na Argentina, especificamente, é que Javier Milei não pode contar com maioria parlamentar para apoiar as medidas de austeridade que ele já anunciou. Javier Milei enfrentará, agora ou daqui a pouco, a oposição cerrada e irresponsável de quem lhe entregou o país em frangalhos.

O gesto obsceno de Cristina Kirchner a quem a vaiava é, mais do que evidência de falta de decoro, sinal do que está por vir politicamente. Em outras palavras, dane-se o país, nós só queremos voltar ao poder e faremos o diabo para que o novo presidente fracasse. Não seria esquerda se assim não fosse.

Quem elegeu Javier Milei votou, principalmente, em um salvador da pátria contra o peronismo inflacionário. Votou com urgências e, assim, espera bons ventos para ontem. Em um primeiro momento, medidas de austeridade fiscal costumam agravar a situação antes de melhorá-la. 

Os cidadãos que votaram em Javier Milei terão paciência para sofrer os efeitos colaterais do medicamento que levará à cura?

É preciso lembrar que os argentinos — todos, peronistas ou não — estão dopados por uma economia fortemente subsidiada por dinheiro público. Javier Milei já disse que tirará essa droga. A ver os primeiros resultados.

É na síndrome de abstinência que os peronistas apostam para inviabilizar o governo do oponente ultraliberal. A abstinência tem a peculiaridade de cancelar a memória dos danos causados pelo entorpecente — memória que, na América Latina, é especialmente curta.

Tudo o que os peronistas querem é que Javier Miler, diante de um contexto político adverso, recorra à persona eleitoral no que ela tem de mais funesta para tentar governar com a pressão das ruas — e que as ruas estejam vazias de um grande público já desencantado com o presidente. Também já vimos esse filme. Um mau filme com péssimos atores de ambos os lados. 

Esperemos assistir a um filme novo, com ótimas revelações de atores e final razoavelmente feliz. Como sabe quem me lê, não sou exatamente um otimista, mas sempre torço para estar errado.

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