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O ensino obrigatório de tupi e o coqueiro que dá coco

Tupi or not tupi, that’s the question. Sempre tive certo receio da resposta a esse trocadilho que está no manifesto dos playboys modernistas

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1 de 1 Indígenas brasileiros -- Metrópoles - Foto: JP Rodrigues/Metrópoles

Tupi or not tupi, that’s the question. Sempre tive certo receio da resposta a esse trocadilho com a frase de Hamlet que está no manifesto daqueles playboys modernistas de 1922.

O receio era mesmo fundado. Um projeto de lei apresentado pelo deputado David Soares, do União Brasil de SP, torna obrigatório o ensino de tupi nas escolas de ensino básico do país. Outras línguas nativas também terão de ser ensinadas, segundo o projeto, a depender da região.

O deputado justifica o ensino obrigatório de tupi porque “em poucos países da América, uma língua indígena teve a difusão do tupi”. O deputado diz ainda que o tupi forneceu inúmeras palavras ao português falado no Brasil e é referência cultural.

O uso do tupi foi banido do Brasil por decreto real, em 1757, pouco antes de os jesuítas serem expulsos da grande colônia portuguesa. As coisas estão associadas. O tupi foi a base da língua-geral criada pelos jesuítas para a comunicação com os indígenas e a sua catequese. A certa altura da colonização, a língua-geral chegou a ser o verdadeiro idioma brasileiro, com variações entre o Norte e o Sul.

Eu não tenho nada contra aprender tupi. Seria muito interessante conhecer a língua de que faço ideia quase nenhuma. Mas ensino obrigatório de tupi não é prioridade educacional. Antes do tupi, temos outra língua a ser ensinada no Brasil: o português.

É problemática a relação de boa parte dos brasileiros com a língua nacional que espero não ver revogada por anticolonialistas ensandecidos. Esses nossos compatriotas têm vocabulário pobre, assassinam a sintaxe, trucidam a gramática e são incapazes de interpretar um texto simples.

O português falado no Brasil está, assim, cada vez mais inculto e cada vez menos belo. Faço uma referência — e uma reverência — aos versos de Olavo Bilac: “Última flor do Lácio, inculta e bela/És, a um tempo, esplendor e sepultura:/ Ouro nativo, que na ganga impura/A bruta mina entre os cascalhos vela…

Ganga impura é redundância, mas vale tudo para ajeitar o verso. Vale até aquele “coqueiro que dá coco”, que o Ary Barroso colocou em Aquarela do Brasil.

Precisamos de bom português antes de obrigar as crianças a aprender tupi. Há grandes vantagens nisso, acredite. O coqueiro vai dar coco: nós nos comunicaríamos melhor, pensaríamos melhor e até votaríamos melhor. Precisaríamos também de bom inglês, a língua franca mundial.

Quem ensinaria tupi nas escolas? Suponho que não há professores suficientes, a menos que sejam contratados indígenas sem pedagogia e talvez desprovidos do necessário conhecimento da língua dos seus ancestrais.

O dado interessante é que o impulso politicamente correto do autor do projeto, David Quaresma, me fez lembrar que o tupi forneceu a saudação do fascismo à brasileira. Os integralistas se cumprimentavam com um “Anauê!”, que na língua indígena significa “você é meu irmão”. Acho que alguém banirá o anauê do tupi.

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