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O drible da vaca do presidente da Petrobras

O CEO da Petrobras nomeou um gerente demitido por corrupção para ser gerente outra vez. A Lula o que é de Lula. Aos acionistas, as batatas

atualizado

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Ricardo Stuckert/PT
Ex-presidente Lula e o senador Jean Paul Prates, ambos do PT, posam para foto. Eles estão de frente, usam trajes sociais, e encostam os punhos num cumprimento. Ao fundo, vários cartazes de propaganda de Lula e do PT - Metrópoles
1 de 1 Ex-presidente Lula e o senador Jean Paul Prates, ambos do PT, posam para foto. Eles estão de frente, usam trajes sociais, e encostam os punhos num cumprimento. Ao fundo, vários cartazes de propaganda de Lula e do PT - Metrópoles - Foto: Ricardo Stuckert/PT

A Petrobras está dominada outra vez. Depois de mudar o seu estatuto para permitir a indicação de políticos para cargos executivos, apressando-se em dar como fato consumado a decisão liminar de Ricardo Lewandowski que praticamente revogou a Lei das Estatais, a empresa nos brinda com mais uma notícia alvissareira.

Os jornalistas Malu Gaspar e Johanns Elles informam que a Petrobras nomeou um ex-funcionário demitido por suspeitas de corrupção “para comandar interinamente a Gerência Executiva de Comunicação de administrar uma verba de cerca de R$ 150 milhões para a contratação de agências de publicidade, comunicação e patrocínios”. O ex-funcionário ocupou o mesmíssimo cargo entre 2015 e 2016.

O nome do gajo é Luis Fernando Nery. Ele foi demitido em 2019, após uma auditoria interna apontar desvios em verbas de publicidade e patrocínios de eventos. Ou seja, Luis Fernando Nery já mostrou ser muito qualificado para voltar a cuidar de tais assuntos.

Apesar de ser o nome certo para o lugar certo, a nomeação foi missão árdua para o presidente da empresa, Jean Paul Prates. Ele tentou nomear o gajo em abril, mas o comitê de compliance da empresa vetou justamente por causa do passado de glórias de Luis Fernando Nery. Diante de tamanha injustiça, Jean Paul Prates deu um chapéu na zaga e o colocou como seu assessor especial, cargo que não requer a aprovação de ninguém, a não ser a do próprio presidente da empresa. As prerrogativas no Brasil costumam ser infinitas.

Para continuar no campo da metáfora futebolística empregada pelos autores da reportagem, depois do chapéu na zaga, o presidente Jean Paul Prates deu o drible da vaca para avançar rumo ao gol: nomeou o protegido interinamente para o cargo que lhe foi vetado. Como “substituto eventual”, Luis Fernando Nery dispensa chancela de chato de compliance. Prerrogativas infinitas, como disse. Foi só uma formalização mais bem remunerada: como assessor especial da presidência da Petrobras, ele já mandava e desmandava na área de comunicação e publicidade.

Mais do que ser protegido de Jean Paul Prates, o gajo é protegido de quem? De Lula. É o que o próprio presidente da Petrobras vem dizendo internamente para justificar o seu empenho na nomeação de Luis Fernando Nery, segundo os jornalistas que apuraram a notícia. Como presidente da Petrobras, Jean Paul Prates é um ótimo senador do PT.

Ninguém precisa ser pitonisa de oráculo grego para prever o futuro próximo. Está claro que vão dar um jeito de Luis Fernando Nery ser efetivado, passados os 180 dias de interinidade. Sabe como é, a auditoria interna que concluiu ter havido corrupção foi contaminada pelo lavajatismo, vamos esquecer tudo e começar de novo, vai valer a pena ter amanhecido, ter me machucado, ter sobrevivido. A Lula o que é de Lula. Ao gajo o que é do gajo. E aos sindicalistas petroleiros o que é dos sindicalistas petroleiros. Consta que Luis Fernando Nery é amigo-irmão dessa categoria particular de brasileiros.

Ninguém precisa também ser pitonisa de oráculo grego para prever o futuro a médio e longo prazos. A Petrobras voltará a ser caixa de partidos políticos, aqueles de sempre, e muita gente vai meter a mão na pessoa física — só que não haverá Lava Jato para quebrar a cornucópia bilionária. Não haverá nunca mais. O servicinho em Brasília foi completo para evitar que a corrupção e crimes correlatos possam novamente ser combatidos nas esferas mais altas do poder. Contentemo-nos com os peixes pequenos, que continuarão a ser pescados para dar a impressão de que a lei é para todos. Fica ótimo nas manchetes dos sites e na escalada dos telejornais noturnos. Aos acionistas da Petrobras, as batatas. Mas quem liga para isso?

Para finalizar, destaco um detalhe que dá a medida de todas as coisas neste Brasil em que o amor venceu o ódio. Contam os jornalistas: “outro episódio que marcou a carreira de Nery foram as denúncias de que ele teria usado o cargo para pressionar a escola de samba carioca Portela a escolher sua mulher, Patrícia Nery, para o posto de rainha de bateria em detrimento da atriz Sheron Menezzes. Na época, a Petrobras patrocinava as escolas de samba do Rio de Janeiro”.

Atualização: a assessoria da Petrobras enviou a nota abaixo.

“A respeito da matéria mencionada em sua coluna sob o título “O drible da vaca do presidente da Petrobras”, segue esclarecimento da Petrobras:

Luís Fernando Nery não foi alvo de uma comissão interna de apuração (CIA) sobre ingressos em camarotes no carnaval baiano, como afirma a matéria. O empregado não foi acusado de corrupção, não atuava na gerência responsável pelo caso investigado e a conclusão da apuração interna não imputou qualquer responsabilidade ao profissional.

Também não é correta a informação sobre acordo para demissão ocorrida em 2019 e não tem relação com a apuração interna citada. Portanto, o empregado não foi demitido por corrução como afirma equivocadamente o título da matéria.

O relatório de maio de 2020 citado na matéria trata de apuração sobre gestão relativa a outro contrato que não tem relação com o caso dos ingressos do carnaval baiano. Tal relatório não aponta em sua conclusão nenhum ato de corrupção.”

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