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O democrata Macron marginaliza eleitores da direita radical

Mas não é só ele. Se a direita radical é sempre uma ameaça à democracia, por que não a colocam na ilegalidade? É que há a esquerda radical

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Emmanuel Macron, presidente da França
1 de 1 Emmanuel Macron, presidente da França - Foto: World Economic Forum

Em entrevista a um canal de televisão, Emmanuel Macron disse que só nomeará um novo primeiro-ministro depois do final dos Jogos Olímpicos de Paris, em meados de agosto. Quer uma “trégua olímpica e política” até lá. O dado curioso é que foi o presidente francês que convocou os franceses para a “guerra”, ao convocar eleições antecipadas a fim de “clarificar” o quadro político.

Ao mesmo tempo, o seu partido centrista, a direita moderada e a coalizão de esquerda que reúne radicais e socialistas deixaram o Rassemblement National, da direita radical, sem nenhum posto-chave na Assembleia Nacional — o partido contava com dois na legislatura anterior, mesmo tendo uma bancada diminuta.

É uma distorção. Se ninguém fez maioria absoluta nas eleições legislativas antecipadas, o Rassemblement National foi o partido que recebeu mais votos dos eleitores.

O partido de Emmanuel Macron e a esquerda já haviam usado a estratégia conjunta de retirar do segundo turno 217 candidatos nas diversas circunscrições e, assim, beneficiar os que estavam em melhor posição para segurar os concorrentes do Rassemblement National. Esse expediente evitou que a direita radical tivesse um número de deputados suficiente para fazer o primeiro-ministro.

Tem-se, portanto, a seguinte situação: o partido mais votado pelos franceses levou o golpe do voto útil de concorrentes sem programa de governo comum que só se uniram para derrotá-lo. O partido mais votado pelos franceses não fará o primeiro-ministro — e Emmanuel Macron protela a escolha de qualquer outro. O partido mais votado pelos franceses foi alijado de cargos importantes da Assembleia Nacional.

Ou seja, os autoproclamados defensores da democracia deram uma banana para a clarificação do quadro político e estão marginalizando quase 11 milhões de eleitores franceses.

A questão que ultrapassa os limites da França é se uma democracia pode ser considerada como tal se dispensa esse tipo de tratamento a um partido de direita radical perfeitamente legal.

O argumento de que a direita radical quer subverter a democracia, corroê-la por dentro e, por isso, não pode ascender ao poder de jeito nenhum deveria levar, então, a que ela fosse colocada na ilegalidade.

Porque, pense bem, como se pode permitir a existência de partidos que, nas palavras dos autoproclamados defensores da democracia, só querem instalar ditaduras? Não faz sentido.

O problema é que a contrapartida deveria ser fazer a mesma coisa com a esquerda radical — mas, você sabe, por mais que a esquerda radical pregue a derrubada do capitalismo, a estatização da economia, a expropriação de propriedade privada, a censura, o autoritarismo do bem, o extermínio de Israel, toda essa receita aí, ela é sempre democrática.

O negócio, então, é ir dando rasteiras contínuas na direita radical para que não se repita o que aconteceu na República de Weimar, esse eterno e conveniente fantasma. Quanto aos seus eleitores, é uma gente que não vale nada, seja por ignorância ou por ruindade. São todos fascistas (mas que ninguém ouse chamar a esquerda radical de comunista, por favor). Na verdade, democracia deveria ter campo de reeducação para ninguém mais votar na direita radical nem para protestar.

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