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O Brasil dá outro vexame em prova internacional: pior que tá não fica

Mais uma vez, o Brasil passou vergonha no Pisa, o exame da OCDE que mede o desempenho de estudantes de 15 anos. Estamos atolados no pântano

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Hugo Barreto/Metrópoles
Alunos e professora em sala de aula - Metrópoles
1 de 1 Alunos e professora em sala de aula - Metrópoles - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Sai governo, entra governo, de esquerda, de direita ou muito pelo contrário, e a educação nacional continua a produzir uma manada de cretinos em Matemática, Leitura e Ciências. Mais uma vez, o Brasil deu vexame no Pisa, o exame da OCDE que mede o desempenho de estudantes de 15 anos em 81 países.

As notas nos países ricos caíram dramaticamente por causa das restrições impostas às escolas durante a pandemia de Covid. Nos países em interminável desenvolvimento, como o Brasil, mantiveram-se estáveis, obedecendo à máxima do Tiririca: com pandemia ou sem pandemia, pior que tá não fica. 

“O Brasil teve desempenho tão ruim nessa avaliação ao longo da última década que não havia muito espaço para piorar. Em 2012, quase 70% dos nossos estudantes de 15 anos não atingiam o nível básico de proficiência em Matemática — isto é, não eram capazes  de interpretar ou reconhecer, sem instruções diretas, como uma situação simples pode ser representada matematicamente (como, por exemplo, comparar distâncias entre rotas alternativas  ou converter preços de dólares para reais)”, analisou Guilherme Lichand, professor de Educação na Universidade Stanford.

No ranking geral, os estudantes brasileiros ficaram no 65º lugar, com 379 pontos. Quase 100 a menos do que a média da OCDE: 472 pontos. Os primeiros colocados foram os estudantes de Singapura, com 575 pontos, e o país europeu mais bem ranqueado foi a Estônia, com 510 pontos.

O Brasil chegou a essa situação constrangedora por escolha própria. Um estudo da própria OCDE, Education at Glance 2023, mostra que o investimento em educação superior no Brasil é semelhante, na média, ao dos países ricos da OCDE. Mas eles destinam três vezes mais à educação básica do que nós. 

Se a sua capacidade de interpretação da realidade não foi comprometida pela escola brasileira, você já entendeu o ponto: é como erguer um prédio sem construir os seus alicerces.

Escassez de dinheiro, contudo, não é o único problema. Mesmo os estudantes brasileiros mais ricos passam vergonha no Pisa. É porque as escolas particulares também fazem parte da máquina de gerar ignorantes. O sistema é osmótico e está integrado a um ambiente geral que não valoriza a educação e a cultura como ativos individuais em qualquer fase da vida.

Embora nunca tenhamos sido grande coisa, ainda guardávamos certa distância do pântano, ou pelo menos essa era a impressão. Hoje estamos inapelavelmente atolados nele. É visível a olho nu: em 40 anos de carreira, trabalhando em diversas redações, posso garantir que o nível de alfabetização dos jornalistas despencou (e eu nem vou falar de doutrinação ideológica e emburrecedora).

Você até se emociona quando se depara com um repórter que sabe escrever direitinho. A incapacidade de fazer o mínimo direitinho não é problema apenas da minha profissão — basta ver a produtividade dos trabalhadores brasileiros em diferentes campos de atividade, uma das mais baixas do mundo. A falta de qualificação começa na escola básica.

O diagnóstico já foi repetido infinitas vezes, e continuaremos a fazê-lo até o final dos tempos. Afora iniciativas pontuais e, portanto, insuficientes, não há solução à vista, só engabelação. Por um motivo evidente para quem liga lé com lé e cré com cré: a tragédia da educação brasileira produziu os políticos que nos governam e os cidadãos que os elegem continuamente. Tudo bem: pior que tá não fica.

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