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O ataque antissemita na Bahia é loucura, mas com método e história

O uso de “sionista” em vez de “judeu” é cinismo do antissemita que usa o falso pretexto de que Israel é genocida quando reage ao Hamas

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Um soldado israelense sai de um túnel perto da fronteira com Israel -- Metrópoles
1 de 1 Um soldado israelense sai de um túnel perto da fronteira com Israel -- Metrópoles - Foto: Amir Levy/Getty Images

A esquerda é, hoje, a maior propagadora do vírus do antissemitismo. Pratica esse crime com despudor e, no Brasil, com cumplicidade oficial. A cumplicidade oficial dá sinal verde a violências como a que ocorreu em Arraial d’Ajuda, na última sexta-feira. O antissemita está à vontade em qualquer latitude.

Relembrado o dado recente: a dona de uma loja na cidadezinha turística baiana foi atacada por uma mulher descontrolada, que teve de ser contida por um homem para que não agredisse a vítima fisicamente. “Sionista, assassina de crianças. Eu vou te pegar, maldita sionista”, gritou a mulher, como se vê em vídeo publicado em primeira mão pelo Metrópoles.

É loucura, mas com método e história. O eufemismo “sionista” é usado pela esquerda no lugar de “judeu” ou “judia”, como se isso conferisse justificativa moral para o seu antissemitismo. Não confere. Só realça o cinismo de quem dá vazão ao seu racismo sob o falso pretexto de que Israel mata palestinos por gosto, para exterminá-los da face da Terra, em objetivo genocida, não para se defender do ataque bárbaro perpetrado pelo Hamas, em 7 de outubro do ano passado.

Se Israel fosse genocida, teria eliminado ou deportado todos os árabes israelenses (em grande parte, palestinos), 20% da população do país, e certamente não sacrificaria soldados em Gaza para fazer trabalho sujo. Além dos mortos em combate, há dezenas deles mutilados pelo Hamas. Atualmente, 170 militares estão em reabilitação no hospital Sheba, em Tel Aviv, um complexo impressionante de prédios de diferentes especialidades e que tem, veja só, médicos e enfermeiros muçulmanos.

Os árabes israelenses têm os mesmos direitos dos judeus, contam com um partido político representado no Knesset, o Parlamento em Jerusalém, e não são obrigados a renunciar aos seus costumes. O exemplo extremo dessa minoria respeitada em Israel são os beduínos. Há pequenas cidades beduínas ao longo da rodovia que corta o deserto de Negeve, no sul do país, cuja língua predominante é o árabe. Como muitos beduínos recusam-se a viver em cidades, preferindo manter certo nomadismo, existem acampamentos nas suas proximidades, com casebres construídos com chapas de alumínio.

Deparei com cidades e acampamentos beduínos a caminho da base aérea Nevim, onde fui convidado a ver um F-35, o caça americano de uso reservado a pouquíssimos países, e um cargueiro C-130 Hércules remanescente da Operação Entebbe, que resgatou reféns israelenses das mãos de terroristas, em Uganda, em 1976. Assim como os outros do esquadrão, o cargueiro foi reformado e conta com um painel digital de última geração. O seu piloto é um rapaz de apenas 24 anos, que me convidou a ocupar o assento do copiloto, enquanto explicava como funcionava o painel. O adolescente ali era eu.

Como não canso de repetir, quem mata civis em Gaza é o Hamas, que os utiliza como escudos humanos. Acusar Israel de genocídio é uma falácia, e o primeiro -ministro Benjamin Netanyahu deverá ser julgado pelos israelenses por todos os seus erros políticos, atos de corrupção e decisões que implicaram eventuais exageros na reação militar.

Israel é uma democracia solitária no Oriente Médio e, como tal, tem fraturas políticas, eleições e Justiça — aspecto que a esquerda tenta cancelar, pintando todos os israelenses como extremistas de direita ou fanáticos religiosos.  Já o Hamas, que pretende exterminar os judeus, objetivo que consta do seu estatuto, nunca poderá ser julgado pelos civis palestinos usados pelo grupo terrorista. Quem ousa fazê-lo é assassinado.

Racista é racista, não é possível convertê-los à racionalidade, e é inútil esperar que eles possam ter qualquer sentimento nobre em relação ao alvo do seu preconceito. Depois da Segunda Guerra, os alemães não deixaram de ser subitamente antissemitas. As leis da Alemanha redimida os domaram, e as gerações seguintes foram sendo educadas para que não nutrissem o ódio contra os judeus que envenenou os seus avós e pais. Sobrou a esquerda sem fronteiras, aliada aos fundamentalistas islâmicos.

O antissemitismo não é fruto do nazismo, que pretendia resolver o “problema judeu” por meio do extermínio de todos eles. O nazismo é que fruto do antissemitismo. O ódio aos judeus tem raízes no catolicismo da Idade Média, que os amaldiçoava como o povo que assassinou Cristo. A tradição antissemita da Igreja se fez presente até o Concílio Vaticano II, há meras seis décadas, que aboliu a missa em latim e, com ela, a liturgia que incluía o pedido de uma oração pelos “judeus horrendos”. 

Foi também a partir da Idade Média que pespegaram nos judeus a fama de gente gananciosa e disposta a tudo por lucro. Na verdade, uma minoria tinha condição de praticar a usura, prática que era considerada pecaminosa pela Igreja. Esses agiotas emprestavam dinheiro a católicos, e os devedores demonizavam ainda mais os credores, como não poderia deixar de ser, ampliando a parte para o todo.

A maioria retumbante dos judeus era de uma pobreza franciscana, com o perdão do chiste, por ser obrigada a viver em guetos e não poder exercer nenhuma profissão entre os gentios, a não ser as mais subalternas. Para não ser injusto, os judeus eram também discriminados e submetidos a toda sorte de humilhações em certos países muçulmanos. 

O antissemitismo da esquerda é um derivado do preconceito que criou esse judeu impregnado de cupidez, conveniente para servir de bode expiatório nos contextos econômicos e políticos mais difíceis das sociedades ocidentais — bode expiatório agora personificado por Israel, que passou a representar, em inversão curiosa, o papel de quem antes era algoz dos judeus: o homem branco capitalista. 

Por má-fé ou ignorância, a esquerda antissemita, à qual deve pertencer a senhora delicada e gentil que agrediu a comerciante judia em Arraial d’Ajuda, apaga a realidade de Israel ter nascido sob o signo do sionismo socialista, e que é o único país do mundo em que uma experiência coletivista deu certo. Estou falando dos kibutzim, as comunidades agrícolas nas quais não há propriedade privada e que atraíam jovens do mundo inteiro, nas décadas de 1950 e 1960, inclusive estrangeiros.

A questão é que o país modelado por sionistas socialistas tornou-se um sucesso da democracia capitalista plantado em meio aos regimes feudais do islamismo. O êxito capitalista de Israel, que possibilitou a experiência coletivista dos kibutzim a prosperar, é intolerável para a esquerda.

O que a esquerda gosta mesmo é de massa obediente,  amordaçada e empobrecida, como a dos palestinos entregues aos terroristas do Hamas, que tiranizam Gaza, e aos corruptos da Autoridade Palestina, que desgovernam a Cisjordânia. 

A servidão voluntária é o ideal da esquerda. No seu antissemitismo que é um anticapitalismo, ela une-se à Igreja medieval, ao nazismo e ao islamismo. E os estilhaços das suas explosões de ódio atingem até a Bahia, quão dessemelhante, estou, estás, do seu antigo estado.

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