Millôr Fernandes, o rei, o meteorologista e o camponês
Estava eu posto em desassossego, neste Brasil cada vez mais brasileiro, quando me veio uma saudade imensa de Millôr Fernandes
atualizado
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Estava eu posto em desassossego, neste Brasil cada vez mais brasileiro, quando me veio uma saudade imensa de Millôr Fernandes. Fiquei a imaginar, como gostam de enunciar alguns ministros do Supremo Tribunal Federal, na sua estranha ojeriza a gerúndios exatos, o que diria Millôr sobre os atuais desacontecimentos (como estamos assistindo a repetições, não são acontecimentos, mas desacontecimentos).
Millôr disse sobre Lula: “A ignorância lhe subiu à cabeça”. É uma avaliação que, sejamos justos com o presidente da República, também cabe para a aterradora maioria dos políticos brasileiros. Acho que Millôr continuaria a dizer a mesma coisa sobre o que vai pelo país e os seus personagens, só que de outras formas divertidas. Como não tenho a mais fugidia sombra do talento de Millôr, e na falta dele, vou apenas replicar uma antiga blague francesa, para comentar jocosamente os atuais desacontecimentos. A blague se intitula “O rei e os asnos”.
“Era uma vez um rei que queria ir pescar.
Ela chamou o seu meteorologista e lhe perguntou qual era a previsão do tempo para as horas seguintes. O meteorologista o tranquilizou, dizendo que ele poderia ir pescar, porque não havia previsão de chuva.
Como a rainha morava perto de onde ele iria, o rei vestiu as suas melhores roupas.
No caminho, ele encontrou um camponês montado em seu asno. Ao ver o rei, o camponês lhe disse: ‘Senhor, é melhor que volte ao seu palácio, porque vai chover daqui a pouco’.
O rei, claro, pensou: ‘Como esse sujeito pode saber mais do que o meu especialista regiamente pago, que me afirmou justamente o contrário? Vou continuar no meu caminho’.
Ele continuou… e, claro, choveu muito. O rei ficou encharcado e a rainha riu muito, ao vê-lo em estado tão lamentável.
Furioso, o rei voltou ao seu palácio e dispensou o meteorologista. Chamou o camponês e lhe ofereceu a vaga, mas o camponês recusou: ‘Senhor, não entendo nada desse negócio de meteorologia, apenas sei que, quando o meu asno baixa as orelhas, é porque vai chover’.
E o rei empregou o asno.
Assim começou o costume de recrutar asnos para os cargos mais importantes do Estado.”