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Melhor ficar calado sobre Taiwan, Lula

Na sua visita à China, esperemos que Lula não fale besteira sobre Taiwan, assim como fez em relação à Ucrânia agredida pela Rússia

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Ju Peng
Presidente Xi Jinping da China discursa em sede do Partido Comunista Chinês, de costas para a plateia. Ao fundo, bandeiras vermelhas e o símbolo do comunismo, uma foice com martelo - Metrópoles
1 de 1 Presidente Xi Jinping da China discursa em sede do Partido Comunista Chinês, de costas para a plateia. Ao fundo, bandeiras vermelhas e o símbolo do comunismo, uma foice com martelo - Metrópoles - Foto: Ju Peng

Na sua visita à China, esperemos que Lula não fale besteira sobre Taiwan, assim como fez em relação à Ucrânia agredida covardemente pela Rússia. O presidente francês Emmanuel Macron, por exemplo, esteve com Xi Jinping há poucos dias e saiu de Pequim dizendo disparates. Afirmou a jornalistas que, se a China invadisse Taiwan, “seria um grande risco se a Europa se deixasse envolver por uma crise que não é nossa” e que o continente é aliado, mas não pode ser “vassalo” dos Estados Unidos na questão da ilha cobiçada pela China — que a considera uma província sua, não uma nação independente. Se houver conflito, finalizou o presidente francês, a responsabilidade será tanto da China quanto dos Estados Unidos.

Como era previsível, a não ser para o próprio Emmanuel Macron, o mesmo sujeito que, em 2019, decretou a “morte cerebral da Otan”, as declaraçōes do presidente francês irritaram Washington e deixaram os demais países europeus atônitos. Afinal de contas, são os Estados Unidos que protegem a Europa da Rússia. Sem os americanos, Paris e adjacências prestariam vassalagem a Moscou desde há muito. E se não fosse pelo apoio financeiro, bélico e de inteligência dos Estados Unidos, a Ucrânia já estaria sob o jugo de Vladimir Putin — e ele ficaria livre para avançar sobre outras latitudes vizinhas que considera ou território russo, ou parte da esfera de influência natural de Rússia, com consequências funestas para o lado mais rico do continente (que, aliás, continua a não gastar com armas o que deveria para proteger-se sozinho).

Afora que é mentira que uma crise em Taiwan não envolveria os europeus. O país asiático é, em si, peça importante no tabuleiro mundial, que ainda inclui a Europa, ora veja só, apesar de Emmanuel Macron achar que não. A ilha de 24 milhões de habitantes— uma democracia de verdade, ao contrário da China — produz 60% dos microchips que todos nós usamos. A queda de Taiwan causaria, portanto, um terremoto na economia planetária, que ficaria mais dependente de Pequim, pelo menos em um primeiro momento (os americanos estão correndo para voltar a fabricar microchips em grande quantidade).

Do ponto de vista estritamente militar, a ocupação da ilha também colocaria os aliados Japão e Coreia do Sul em extremo perigo, visto que a China se sentiria muito à vontade para transformar em realidade as suas pretensões territoriais e geopolíticas na Ásia. Para não falar da ameaça onipresente da Coreia do Norte, comandada pelo malucão nuclear Kim Jong-un, que hoje lançou um míssil balístico para aterrorizar os japoneses — e que presta vassalagem a Pequim, porque não é tão louco a ponto de rasgar dinheiro.

O camarada Xi Jinping, afinado com Vladimir Putin, parece acreditar que os Estados Unidos não serão capazes de fornecer ajuda suficiente em duas frentes, a de Taiwan e a da Ucrânia. Inclusive porque os isolacionistas republicanos, que fazem oposição ao apoio maciço da Casa Branca a Kiev, ganham força na opinião pública americana, diante de um Joe Biden politicamente enfraquecido. Seja como for, não é prudente apostar contra o poder militar e a capacidade industrial, tecnológica e logística dos Estados Unidos, nem contra a união de republicanos e democratas em caso de guerra próxima da total. Adolf Hitler, Benito Mussolini e o Japão de Hiroíto subestimaram os americanos e perderam.

Xi Jinping prepara o colosso chinês para a batalha, é fato. Fala e age nesse sentido, como demonstram os exercícios da sua soldadesca ao largo de Taiwan, o último deles com munição real, além das provocações quase diárias que a Força Aérea chinesa faz ao vizinho. Segundo a Reuters, um dia depois de Lula deixar Pequim, a China fechará por quase meia hora o espaço aéreo ao norte de Taiwan, supostamente para lançar satélites e evitar acidentes. O fechamento abrange uma parte do espaço aéreo da ilha. Para se ter ideia, nessa área passam 60% dos voos comerciais da Ásia. O fechamento está com cara de ensaio geral.

Emmanuel Macron deu uma alegria imensa ao líder chinês, quando sugeriu que a Europa poderia ter “autonomia estratégica” e fazer vista grossa à invasão da ilha. Seria uma rachadura e tanto no sistema de alianças ocidental, que enfrenta divisões no caso ucraniano e foi criminosamente negligente em 2014, por ocasião da ocupação da Crimeia — a região que o presidente brasileiro sugere que Volodymyr Zelenski entregue de bandeja a Vladimir Putin, porque, sabe, companheiro, o presidente ucraniano não pode “querer tudo”. Melhor ficar calado sobre Taiwan, Lula. Menos entusiasmo com um mundo que trocaria os Estados Unidos pela China.

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