Macron acusa Elon Musk de apoiar uma “internacional reacionária”
Musk empenha-se em ajudar a direita na Europa. Mas há também a “internacional progressista”, que encobre crimes em nome do multiculturalismo
atualizado
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Depois de ajudar a eleger Donald Trump, Elon Musk está empenhado em fortalecer a direita radical na Europa. Em dezembro, ele meteu o bedelho na política da Alemanha, onde tem grandes investimentos, para a irritação do chanceler Olaf Scholz, que está para ser defenestrado.
Em artigo publicado em um grande jornal alemão, ele apoiou o partido da direita radical nas eleições que ocorrerão em fevereiro, dizendo que a Alternativa para a Alemanha, esse é o nome da agremiação, era “a última centelha de esperança” para um país que chafurdaria na mediocridade e estaria ameaçado de perder a identidade cultural por causa da imigração em massa.
Elon Musk suscita tanto incômodo que o presidente francês Emmanuel Macron, que posava de amigo do dono da Testa e da Starlink e o recebeu no Palácio do Eliseu na recepção a chefes de governo e de Estado na noite de reabertura da Notre-Name, afirmou hoje a um plateia de embaixadores, em Paris, que Elon Musk apoia uma “internacional reacionária”.
“Há 10 anos, se tivessem dito que o dono de uma das maiores redes sociais do mundo apoiaria uma nova internacional reacionária e interviria diretamente em eleições, inclusive na Alemanha, quem poderia acreditar?”, disse Emmanuel Macron, que teme que a rival Marine Le Pen, da direita radical, seja a sua sucessora em 2027.
O novo amigo de infância de Donald Trump também embaralha o jogo político no Reino Unido. Na rede social X, de sua propriedade, Elon Musk disse que o primeiro-ministro Keir Starmer, do Partido Trabalhista, cuja popularidade está em queda livre, deveria ser preso por “cumplicidade no estupro de britânicos”.
Com a sua postagem, ele reavivou um escândalo de proporções gigantescas: durante 16 anos, de 1997 até 2013, 1.400 crianças foram estupradas e abusadas sexualmente, em cidades no norte da Inglaterra, e as autoridades responsáveis pela investigação dos casos estão sendo acusadas de beneficiar os criminosos.
Keir Starmer era chefe dos promotores encarregados de investigar o crime. Ele teria atuado, juntamente com colegas seus, para acobertar estupradores e abusadores, boa parte pertencente a bandos organizados, porque a quase totalidade dos celerados é de cidadãos britânicos de origem paquistanesa. A justificativa era que, se a identidade dos criminosos viesse a público, isso poderia causar tensões raciais. Teriam contado para isso com a cumplicidade de políticos e autoridades locais.
A brecha para que Elon Musk entrasse na história foi a recusa do governo de Keir Starmer de reabrir o caso dos estupros e abusos a pedido das autoridades municipais de Oldham, uma das cidades que foram cenário dos crimes. Elas queriam voltar a investigar o que ocorreu localmente.
Keir Starmer declarou que Elon Musk espalha “mentiras e desinformação”, mas o histrionismo do neotrumpista não deve servir, ele também, para encobrir um horror que podem ser ainda mais extenso: acredita-se que as gangues de estupradores vinham agindo desde a década de 1970.
A jornalista americana Bari Weiss, ex-editora de opinião do New York Times, jornal do qual saiu por causa da patrulha esquerdista, e fundadora do The Free Press deu a justa medida dessa vergonha que não deveria ser varrida outra vez para debaixo do tapete. Porque o que houve foram algumas poucas e simbólicas condenações, na década de 2010. Bari Weiss escreveu o seguinte no X:
“O escândalo já está remodelando a política britânica. Não é apenas sobre a natureza hedionda dos crimes. É porque todos os níveis do sistema britânico estão implicados no encobrimento.
“Assistentes sociais foram intimidados a silenciar. A polícia local ignorou, desculpou e até mesmo incitou estupradores pedófilos em dezenas de cidades. Policiais sêniores e funcionários do Ministério do Interior evitaram agir deliberadamente, em nome da manutenção do que chamavam de ‘relações comunitárias’. Vereadores locais e membros do Parlamento rejeitaram pedidos de ajuda dos pais de crianças estupradas. Instituições de caridade, ONGs e parlamentares trabalhistas acusaram aqueles que discutiram o escândalo de racismo e islamofobia. A mídia, na sua maioria, ignorou ou minimizou a maior história de suas vidas. Zelosa na sua falta de curiosidade, grande parte da elite da mídia britânica permaneceu grudada à bolha da política de Westminster e às suas prioridades egoístas.
“Eles fizeram isso para defender um modelo fracassado de multiculturalismo e para evitar fazer perguntas difíceis sobre falhas da política de imigração e assimilação. Eles fizeram isso porque tinham medo de serem chamados de racistas ou islamofóbicos. Eles fizeram isso porque o esnobismo de classe tradicional da Grã-Bretanha se fundiu ao novo esnobismo do politicamente correto.”
Elon Musk pode apoiar uma internacional reacionária, mas é indubitável que existe também uma internacional progressista empenhada em esconder uma realidade que bate de frente com os seus dogmas. Essa realidade inclui crimes hediondos, como exemplifica o Reino Unido.