Lulinha Ronaldinho precisa mostrar jogo
Foram milhões para cá, milhões para lá, mas e daí? Um grande talento Lulinha haverá de ter. Talvez ele agora o explicite, com o seu espírito empreendedor
atualizado
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O repórter Luiz Vassallo, da sucursal paulista do Metrópoles, revelou que Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, prepara-se para voltar aos negócios.
Ele estava prestes a alugar uma sala em São Paulo para ser o endereço da sua empresa, quando a reportagem de Luiz Vassalo foi publicada. Parece que Lulinha não sabia que a a venda da sala está bloqueada na Justiça porque o imóvel pertence a um traficante de cocaína. De acordo com amigos do filho do presidente, pode ser que ele escolha outra sala.
A empresa com a qual Lulinha fará a sua rentreé é a G4 Entretenimento Digital, empresa que, no primeiro mandato de Lula, recebeu, por meio de outra firma, a Gamecorp, uma dinheirama da Telemar, empresa de telefonia com interesses no governo — mas isso, claro, foi só coincidência.
Lulinha surgiu para o mundo graças à revista Veja, em julho de 2005. Eu era o chefe direto da equipe de editores e repórteres que primeiro apurou, a partir de São Paulo, os negócios mirabolantes do filho do presidente. Título da reportagem: O negocião de Lulinha — como o filho do presidente se tornou sócio de uma gigante da telefonia.
Mais de um ano depois da publicação da primeira reportagem, a sucursal brasiliense da revista deu sequência ao assunto e mostrou que Lulinha tinha uma sala numa casa de um conhecido lobista de Brasília. O rebento abnegado se esforçava na mudança de uma lei para beneficiar a empresa de telefonia que injetou dinheiro no seu negócio — mas isso, claro, sempre no interesse maior do Brasil.
Era outubro de 2006, pouco antes da eleição presidencial e da publicação da segunda reportagem pela Veja. Lula havia concedido entrevista à Folha,. Indagado sobre os negócios milionários de Lulinha, ele respondeu que nem todo mundo podia ter um Ronaldinho na família. A chamada de capa da revista foi, portanto, O Ronaldinho de Lula.
A reportagem afirmava, lá se vão 17 anos:
“O caso de Lulinha tem um complexidade maior. Sua relação com a Telemar não se esgota nos interesses de ambos na Gamecorp. O filho do presidente foi acionado para defender interesses maiores da Telemar junto ao governo que o pai chefia. Em especial, em setores em que se estudava uma mudança na legislação de telecomunicações que beneficiava a Telemar. Descobriu-se agora que a mudança na lei foi tratada por Lulinha e seu sócio Kalil Bittar com altos funcionários do governo. O assunto levou a dupla a três encontros com Daniel Goldberg, titular da Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça (SDE). Em um desses encontros, ocorrido no início de 2005, Lulinha e Kalil, já então sócios da Telemar, sondaram o secretário sobre a posição que a SDE tomaria caso a Telemar comprasse a concorrente Brasil Telecom — fusão que a lei proíbe ainda hoje. Goldberg, ciente do obstáculo legal, disse que o negócio só seria possível mediante mudança na lei. O estudo do escândalo Lulinha (a publicação da primeira reportagem da Veja) abortou os esforços para mudar a legislação e favorecer o sócio do filho do presidente.”
Dois anos depois, em 2008, no segundo mandato de Lula, a legislação mudou e a Telemar (Oi) fundiu-se com a Brasil Telecom. Treze anos depois, em 2019, foi deflagrada a Operação Mapa da Mina, decorrente da Lava Jato, para investigar Lulinha. O processo resultante da operação foi arquivado no ano passado, a partir da decisão do STF de considerar Sergio Moro parcial. Quem leu o livro Me Odeie pelos Motivos Certos (Topbooks), lançado por mim em 2021, conhece bastidores das reportagens da Veja.
Esqueçamos o passado, contudo, e nos concentremos no futuro. Foram milhões para cá, milhões para lá, mas e daí? Um grande talento Lulinha haverá de ter. Talvez ele agora o explicite, com o seu espírito empreendedor despertado novamente, depois do retorno do pai à presidência da República — outra coincidência, estou certo. Vamos dar um voto de confiança. Engula o seu Bis e seja feliz.