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Lula tem razão ao elogiar Romero Jucá: ele é o futuro da democracia

Se há uma qualidade em Romero Jucá é a esperteza, mas ele não é diferente dos seus pares. É só um espécime mais avançado da seleção natural

atualizado

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Romero Jucá, ex-senador do MDB cumprimentando autoridades - Metrópoles
1 de 1 Romero Jucá, ex-senador do MDB cumprimentando autoridades - Metrópoles - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Lula elogiou Romero Jucá. Sim, um dos articuladores do impeachment de Dilma Rousseff e, portanto, na visão do PT, um dos golpistas que colocaram Michel Temer na presidência da República. Como os professores petistas que doutrinam os alunos nas universidades vão se virar com essa? 

Disse Lula, em evento governamental ocorrido ontem, no qual o ex-senador estava presente: “Quero aproveitar o Romero Jucá, ex-senador Romero Jucá… O Romero é tão esperto, que ele é sempre senador mesmo quando ele não está exercendo o cargo”.

É verdade. De vez em quando, as falas de Lula têm sentido. Se há uma qualidade em Romero Jucá, é a esperteza. Todo mundo reconhece isso em Brasília. A sua capacidade de adaptação às variações do ecossistema político brasiliense causa admiração entre políticos e jornalistas, e é fato sobejamente conhecido que, apesar de não ter mais mandato, Romero Jucá continua atuando fortemente junto às diferentes esferas de poder. 

O vídeo do elogio de Lula à esperteza de Romero Jucá foi publicado no X por Sam Pancher, meu colega de Metrópoles. O jornalista acrescentou na sequência um diálogo telefônico cabuloso, de 2016 (se Flaubert fosse brasileiro, teria colocado esse adjetivo no seu Dicionário das Ideias Feitas, porque todo diálogo no país só pode ser cabuloso), entre o então senador do MDB e Sergio Machado, que havia presidido a Transpetro e estava na mira da Lava Jato.

Romero Jucá queria “delimitar” a operação e conversou sobre qual seria a melhor forma de fazê-lo. Aí vai a reprodução da conversa:

Machado: “Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel Temer. É um acordo, botar o Michel Temer, num grande acordo nacional.”

Jucá: “Com Supremo, com tudo.”

Machado: “Com tudo, aí parava tudo.”

Jucá: “É, delimitava onde está, pronto.”

Na ocasião, o PT viu no diálogo a prova de que o impeachment de Dilma Rousseff foi golpe — ou via, sei lá, já que Romero Jucá voltou a cair nas graças públicas de Lula. Mas a realidade é que Dilma Rousseff não tinha mais como se segurar no cargo e a Lava Jato não parou ou foi “delimitada” depois que Michel Temer substituiu a petista.

A adaptabilidade de Romero Jucá, eu ia dizendo, é notória. Mas isso não o torna um espécime diferente dos outros que habitam a selva selvagem brasiliense. Ele só está muitos estágios além no processo de seleção natural que os eleitores brasileiros promovem desde a redemocratização.

O processo é natural porque os eleitores brasileiros não o fazem com o objetivo explícito de selecionar os melhores, os piores, os mais espertos ou o que seja. Não selecionamos nada. Somos como o vento que transporta ao acaso as sementes que, uma vez germinadas, lutam para sobrepujar as concorrentes. As mais adaptadas vencem.

O estágio de Romero Jucá é tão adiantado nesse processo de seleção natural que ele nem precisa mais ter mandato para continuar a ser senador. Romero Jucá é o futuro da nossa democracia darwiniana. Chegará o dia que nem precisaremos mais votar para que os mais espertos governem.

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