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Lula quer que Campos Neto vaze do BC

Ele fará de tudo para que a autoridade monetária saia ou seja saída. Aposto em Lara Resende como substituto. Sinal verde para mais gastança

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Marcelo Camargo/Agência Brasil
Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, fala em comissão no Senado Federal durante sua sabatina. No detalhe ele ouve a pergunta de um senador, diante de microfone - Metrópoles
1 de 1 Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, fala em comissão no Senado Federal durante sua sabatina. No detalhe ele ouve a pergunta de um senador, diante de microfone - Metrópoles - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Os violentos ataques de Lula ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, por causa da Selic a 13,75%, são coordenados com a cúpula do PT, dos petistas nas redações dos grandes jornais, dos blogs petistas e da militância virtual do partido nas redes sociais. O modus operandi é conhecido e a voz de comando é sempre do guia genial dos povos. O bombardeio já era esperado, como antecipou Luiz Carlos Mendonça de Barros, em entrevista ao jornalista Carlos Rydlewski, do Metrópoles, em 7 de janeiro. “O governo caminha para um conflito com o BC”, disse ele. 

Neste terceiro mandato, Lula mudou de posição: de good cop, que assinou a Carta aos Brasileiros antes de assumir pela primeira vez a Presidência, agora ele é o bad cop. O papel principal de bonzinho, diante de câmeras e microfones, foi reservado ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que tem de fazer a interlocução com o mercado financeiro, com o empresariado em geral e com o próprio Roberto Campos de Neto — que, assim como o ministro, integra o Conselho Monetário Nacional. É igualmente ação coordenada. Fernando Haddad sempre fez o que Lula quis que ele fizesse e não será agora que irá contrariar o chefe. Os outros “bonzinhos” petistas também.

Depois da temporada em cana, o Lula apaziguador deu lugar ao Lula radical. Assim como o finado Itamar Franco, ele passou a guardar os ressentimentos na geladeira. A sua nova mulher, Janja, contribui bastante para que o presidente da República tenha soltado a franga esquerdista. Ela não apenas frequenta reuniões presidenciais e despacha no Palácio do Planalto. Também influi em nomeações. Credita-se a ela, por exemplo, a escolha do advogado Manoel Caetano, que visitava Lula na cadeia, para integrar a Comissão de Ética Pública da Presidência, publicada ontem no Diário Oficial da União. Por último, mas não menos importante, a escalada no discurso de Lula contra os militares foi insuflada por Janja.

Pergunta-se o que Lula, o radical, tem a ganhar com os ataques a Roberto Campos Neto, uma vez que isso só piora as expectativas em relação à economia brasileira. Um ponto levantado é que, se a situação piorar nos próximos meses, e a picanha continuar rara no prato dos brasileiros, o presidente da República poderá atribuir a culpa ao presidente do Banco Central, que tem autonomia como autoridade monetária e mandato até o final de 2024. Usá-lo como bode expiatório é parte da verdade. O que Lula quer mesmo, está na cara, é que Roberto Campos Neto renuncie, para não ter de exonerar o moço que, neste momento, tem o pior emprego do Brasil. Deixou de ser fritura para ser assado.

Lula fará de tudo pela exoneração, caso o presidente do Banco Central não peça o chapéu. Inclusive porque está paranoicamente convencido de que “o cidadão”, com a Selic na casa dos dois dígitos, é um sabotador bolsonarista do seu governo (uma falsidade, visto que, no governo de Jair Bolsonaro, a taxa de juros foi de 2% para 12%). 

A jornalista Bianca Alvarenga, do Metrópoles, cantou a bola numa reportagem publicada em 23 de janeiro, intitulada A “brecha” que o PT tem em mãos para tentar tirar Campos Neto do BC. A estratégia é inculpar o presidente do Banco Central pelos sucessivos estouros da meta de inflação fora da meta e, desse modo, abrir caminho para a sua exoneração, por ter apresentado “comprovado e recorrente desempenho insuficiente para o alcance dos objetivos do Banco Central do Brasil”. Ou seja, usar casuisticamente o que está escrito na lei para responsabilizar Roberto Campos Neto pelos desmandos de Jair Bolsonaro e do atual inquilino do Palácio do Planalto.

Lula quer baixar os juros por um único motivo: reeditar o crescimento econômico baseado apenas em consumo. Fazer pobre endividar-se com aquele “carnezinho gostoso”, para usar a expressão da empresária Luiza Trajano. Foi o que ele fez nos seus governos anteriores, é o que deseja voltar a fazer agora. Ele não vê mesmo aumento da inflação com problema, desde que a sua massa de eleitores mais pobres possa adquirir uma geladeira pelo preço de duas ou três, na ilusão de que a felicidade se compra a prestação.

Se conseguir exonerar Roberto Campos Neto ou fazer com que ele peça para sair, quem Lula colocará para presidir o Banco Central? A minha aposta é que convidará André Lara Resende, um convertido à heterodoxa Teoria Monetária Moderna, se é que já não convidou. André Lara Resende recusou o Ministério do Planejamento, mas pode se sentir mais confortável para aceitar outro convite, pelo fato de esse cargo lhe conferir autonomia.  Ele toca uma música que soa linda aos ouvidos de Lula.  Em artigo publicado ontem, no jornal Valor, veja só a coincidência, ele escreveu que o risco fiscal é “inexistente” no Brasil, que a Selic é “injustificavelmente alta” e que a dívida pública interna, assim como a moeda, é “um bem público indispensável ao bom funcionamento da economia”.

É um sinal verde para mais gastança do governo, para a diminuição da Selic e para o aumento da inflação.

Boa sorte, brasileiros. 

 

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