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Lula, o comunista

O mesmo Lula que tirou a vaga de uma mulher no STF festeja ter colocado lá suposto adepto do comunismo, ideologia que não representa ninguém

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Ricardo Stuckert/Divulgação
Lula e governador do Maranhão, Flávio Dino -- Metrópoles
1 de 1 Lula e governador do Maranhão, Flávio Dino -- Metrópoles - Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

Na semana que chega ao fim, Lula comemorou publicamente a aprovação no Senado de Flávio Dino para uma vaga de ministro do STF:

“Vocês não sabem como eu estou feliz hoje. Pela 1ª vez na história desse país, conseguimos colocar na Suprema Corte um ministro comunista, um companheiro da qualidade de Dino”, disse o presidente, na abertura de uma conferência de juventude, em Brasília.

Os hermeneutas de Lula comentaram que ele estava debochando de Jair Bolsonaro e dos bolsonaristas, que criticaram a indicação de Flávio Dino por ele ser comunista.

De fato, o agora ministro do STF foi filiado ao Partido Comunista do Brasil até 2021, quando migrou para o Partido Socialista Brasileiro. Em 2015, ainda no antigo partido, Flávio Dino disse que “enquanto socialista, comunista e marxista”, ele fazia “o que Lênin recomendava”. 

Como ocorre com todo político brasileiro, porém, a ideologia de Flávio Dino, integrante da elite maranhense desde criancinha (aliás, o alimento preferido dos comunistas), é fluida, de ocasião, o que não impede que se faça um monte de bobagens em nome dela. Em resumo, Flávio Dino é tão comunista quanto José Sarney, seu conterrâneo, é bom escritor.

Revi várias vezes o vídeo com a fala de Lula. Ela foi em resposta a Jair Bolsonaro e aos bolsonaristas, mas não pareceu deboche. O presidente deu a entender que realmente achava uma conquista ter um comunista no STF. Talvez ele tenha lembrado do seu irmão, Frei Chico, militante do Partido Comunista Brasileiro que foi preso e torturado na ditadura militar, e resolvido fazer uma homenagem oblíqua.

Acho desnecessário discorrer sobre a nocividade do comunismo, embora tenha brotado recentemente no Brasil um punhado de stalinistinhas. A questão, para mim, é Lula comemorar a nomeação de um comunista, depois de preterir uma mulher ou um negro de verdade para a vaga na mais alta instância do Judiciário. Vaga que era da ministra Rosa Weber.

Nunca é demais repetir que Lula diminuiu o número de mulheres no STF, que agora só conta com uma ministra, Cármen Lúcia. Mas ele festeja ter colocado um suposto adepto do comunismo no tribunal, ideologia que não representa parcela praticamente nenhuma da população brasileira.

Há outro ponto a ser notado sobre a fala de Lula. Como escreveu no Twitter o meu colega de Metrópoles Sam Pancher, os petistas e congêneres precisam “decidir se comunismo é um ‘delírio da extrema direita’ ou se existe mesmo”. O que não dá é para escolher a alternativa a depender da situação.

De qualquer forma, quem definiu bem a discussão sobre comunismo foi, mais uma vez, o Millôr Fernandes, que repetiu a sua frase para mim diante de um prato de pasta: “Comunismo é uma religião igualzinha às outras. Pra quem acredita, não precisa explicação. Pra quem não acredita, não adianta explicação”.

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