Lula é um telefone de disco, uma TV de tubo, uma fila de banco
Ele envelheceu. A sua retórica não tem mais apelo e já não cola o método de dizer que não sabia de nada
atualizado
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Lula já não é mais o mesmo, e é natural que seja assim. Todos nós envelhecemos, com o perdão da obviedade ululante, por mais que nos sintamos tão em forma como há dez ou até vinte anos, por mais que os nossos exames médicos mostrem que continuamos saudáveis nas células mais recônditas, por mais que tentemos disfarçar a passagem dos anos com a cosmética e a estética. É que a velhice está principalmente nos olhos dos outros. Antes que me acusem de etarismo, digo que ela, a velhice, me atinge, igualmente, e que não há o que fazer. Envelhecemos como as flores de um vaso e, como flores de um vaso, vamos sendo trocados pelos mais jovens, só que aos poucos.
O cravo vermelho Lula murcha dia após dia. A sua retórica populista não tem mais o apelo dos primeiros mandatos, as suas piadas perderam a graça, as suas referências são antigas, as suas ideias, ultrapassadas, os seus métodos, cambaleantes — entre eles, o de sempre dizer que não sabia de nada quando pego no contrapé, como agora no caso de Gonçalves Dias, o ministro-chefe do GSI que estava tranquilão no Palácio do Planalto em 8 de janeiro.
A plateia de Lula mudou, é mais moça: segundo dados do TSE, quase um terço do eleitorado tem menos de 34 anos e não deve se ver refletida num presidente septuagenário já perto de ser octogenário. Aliás, não deve se ver refletida em praticamente nenhum político brasileiro de destaque, arrisco dizer, seja ele jovem ou não, seja ele de esquerda ou de direita. Porque é uma gente velha na mentalidade. Se a essa poeira neuronal se soma a da cronologia, tudo fica ainda mais longínquo.
Aos 77 para 78 anos, Lula é um telefone de disco, uma TV de tubo, uma fila de banco, uma reprise de filme antigo e ruim. Venceu a última eleição presidencial mais pelos defeitos do concorrente Jair Bolsonaro do que por suas próprias qualidades e com margem muito estreita de votos, de forma semelhante à de Joe Biden, nos Estados Unidos, em relação a Donald Trump. Telefones de disco contra telefones de disco.
As circunstâncias aumentam ou diminuem um presidente, e temos aí a da polarização ideológica e a da economia em semi-intensiva para diminuir o petista, mas as senescências de Lula também ajudam a explicar os resultados das últimas pesquisas nacionais sobre a sua popularidade. A mais recente delas, divulgada pela Qaest nessa quarta-feira, mostra um crescimento da avaliação negativa, na comparação com fevereiro. Há dois meses, o governo do petista tinha 40% de aprovação; agora, tem 36%. A reprovação, por sua vez, aumentou de 20% para 29%. Os que achavam regular eram 24%; hoje são 29%.
A pesquisa ainda perguntou aos entrevistados como eles julgam o comportamento de Lula no cargo. Mais da metade, 53%, acha que o petista se comporta bem. Esse índice, contudo, era de 65% em fevereiro. Houve, portanto, uma queda de 12 pontos percentuais. Os que acreditam que o petista se comporta mal na Presidência da República são 40%; eram 29% dois meses antes.
Há de se levar em conta que a pesquisa foi feita por ocasião do anúncio de Fernando Haddad de que o governo acabaria com a isenção fiscal das compras no exterior até 50 dólares feitas online por pessoas físicas. As redes sociais e o noticiário vieram abaixo com a medida que afetaria principalmente os brasileiros de menor poder aquisitivo. Não adiantou acionar os suspeitos de sempre para defender a medida. Deu tão ruim, como se diz, que Fernando Haddad viu-se obrigado a voltar atrás.
Se o imbróglio de 8 de janeiro não feder além do que já fede, o provável aumento de gastos eleitoreiros do governo, previsto pelo arcabouço fiscal a ser votado no Congresso, poderá aumentar a popularidade de Lula nas próximas pesquisas, visto que o essencial para o cidadão é ter dinheiro no bolso aqui e agora. Mas não se muda o fato de que o líder petista é um telefone de disco, uma TV de tubo, uma fila de banco, uma reprise de filme antigo ruim, para parte crescente de eleitores. Ao contrário do que ocorria nos seus primeiros mandatos, quanto mais ele aparece, pior é.
A menos que a economia brasileira alce um voo bem mais alto do que o de uma galinha até 2026, improbalidade mais para milagre, um Lula octogenário só vencerá a próxima eleição presidencial se forem liquidadas no berço todas as opções viáveis na oposição. É a essa tarefa que se dedicam o PT e as suas linhas auxiliares, enquanto tentam também construir uma eventual candidatura substituta — como a da ambiciosa (e um tanto bovarista) Janja, hoje a figura que mais divide opiniões no campo da esquerda.