Janja, a condecorada, e você não tem nada a ver com isso
Janja recebeu a mais alta condecoração da Ordem do Rio Branco “pelos seus serviços e méritos excepcionais”. Quais foram esses serviços?
atualizado
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A primeira-dama Janja ainda não tem gabinete próprio no Palácio do Planalto, mas já tem condecoração. O seu marido, Lula, concedeu-lhe a mais alta condecoração da Ordem do Rio Branco “pelos seus serviços e méritos excepcionais”. Quais foram esses serviços? Isso não é da nossa conta, assim como também não é a de Lu Alckmin e de todos os outros medalhados, enfaixados, o que seja, por ser escolha do presidente. E tem mais: da lista divulgada, a condecoração de Janja é a que faz mais sentido de certo ponto de vista histórico mais amplo.
Histórico-amoroso: a origem do costume de dar medalhas da ordem disso e daquilo começou em um baile que emanava feromônios, segundo a lenda (e as lendas são sempre mais interessantes).
Imagine-se em meados do século XIV, não como pobretão, mas como nobre. Nobre inglês. Nobre inglês da corte do rei Eduardo III. Nobre inglês da corte do rei Eduardo III em Calais. Calais fica na França, mas nessa época pertencia à Inglaterra. Esqueci de dizer: você é um nobre inglês que vive durante a primeira metade da Guerra dos Cem Anos, quando a Inglaterra estava ganhando da França.
Eduardo III era um sujeito que gostava dos rituais da cavalaria, conta André Maurois, escritor e ensaísta francês que anda meio esquecido, na sua extraordinária Histoire d’Angleterre. O rei inglês jurou, por exemplo, que faria da Távola Redonda uma realidade e até construiu aquela torre circular no Castelo de Windsor para abrigá-la. Eduardo III, diz Maurois, era galante e suspirava pelas damas. Mas não perdia o realismo, tanto que a sua divisa era It is as it is.
Muito bem, aí está você, nobre inglês, no baile em Calais. Não imagine valsa, porque valsa ainda não existia. Imagine uma dança compassada, de movimentos coletivos coordenados, ao som de instrumentos medievais. Observe agora que Eduardo III tem como par de dança a sua amada amante, a Condessa de Salisbury (os inimigos franceses inventaram que ele estuprou a condessa). Passinho para cá, passinho para lá, eis que a liga da moça escorrega pela perna.
A condessa fica envergonhada, os cortesãos riem maliciosamente e fazem gracejos sobre ela, a sua liga e o seu marido ausente. Os músicos param de tocar. Eduardo III ajoelha-se, pega a liga (também chamada jarreteira), coloca-a sobre o joelho e diz em francês: “Senhores, envergonhe-se quem disso pensa mal (honi soit qui mal y pense). Aqueles que agora riem se sentirão muito orgulhosos de usar uma peça semelhante, pois este laço será tema de tal honra, que os escarnecedores a buscarão com ansiedade”.
Você, nobre inglês, acabou de assistir à criação da Ordem da Jarreteira, que tem uma liga como emblema e é a mais alta condecoração das ordens de cavalaria britânicas. A frase honi soit qui mal y pense está lá. Liga e frase também figuram no brasão da Inglaterra, juntamente com a divisa Dieu et mon droit. Deus, direito e uma liga que escorregou da perna da amante do rei durante um baile.