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Jair Bolsonaro é sintoma (mais um) do que se passa no Brasil

Mesmo que não seja preso, Jair Bolsonaro será visto como um ladrãozinho. Deveríamos refletir sobre termos tantos ex-presidentes encrencados

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Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com luz colorida no rosto - Metrópoles
1 de 1 Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com luz colorida no rosto - Metrópoles - Foto: Fábio Vieira/Metrópoles

Jair Bolsonaro deve ter a prisão preventiva decretada imediatamente pelo ministro Alexandre de Moraes, a sua Nêmesis, se o tenente-coronel Mauro Cid confessar mesmo que vendeu relógios de luxo recebidos como presentes oficiais e repassou o dinheiro em espécie resultante da venda ao ex-presidente, tudo a mando do próprio Jair Bolsonaro.

Avoluma-se também a história do hacker contratado para fraudar urna eletrônica e assumir a autoria de um suposto grampo do telefone de Alexandre de Moraes, cuja veracidade precisa ser verificada, uma vez que o personagem em questão é conhecido estelionatário. De qualquer forma, Jair Bolsonaro admitiu ter conversado com o sujeito, o que já é um desvio do comportamento que se espera de um presidente, algo que não o ajudará nos demais processos.

O enredo burlesco, chulé, é um final vagabundo para quem teve um início vagabundo — e que não soube aproveitar a chance de limpar e honrar a sua biografia no exercício da Presidência da República, por “limitações cognitivas e baixa civilidade”. O diagnóstico feito pelo ministro Luís Roberto Barroso, no início de 2022, ao comentar os reiterados ataques de Jair Bolsonaro ao sistema eleitoral, resume perfeitamente o personagem.

Mesmo que não seja preso agora ou que não seja preso nunca, Jair Bolsonaro será visto como um ladrãozinho de joias, outro diminutivo a abrilhantar o currículo do chupista de rachadinhas. O fato deveria provocar uma reflexão que ultrapassasse as delinquências do ex-inquilino do Planalto.

Desde o restabelecimento das eleições diretas para presidente da República, sete políticos ocuparam o cargo: Fernando Collor de Mello, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Lula, Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro. Desses sete, dois foram saídos durante o mandato por fazer lambanças, quatro enfrentaram processos por roubalheira e dois desses quatro chegaram a ver o sol nascer quadrado (até agora). Esquerda, direita, centro: há encrencados de todos os espectros. Não é relativização, é constatação.

O que isso significa? A resposta mais comum em Brasília e alhures é que o presidencialismo de coalizão é a ocasião que faz o ladrão e, por isso, o semipresidencialismo ou o parlamentarismo seriam a solução.

Duvido, basta ver o que ocorre também nos demais poderes. O cerne da questão está longe de ser o tipo de regime político ou o formato da votação, se distrital ou não, mas a qualidade do homem público brasileiro. Ela é tão ruim, em termos de honestidade, ética, cultura, visão de mundo e capacidade de administração, que se fosse medíocre já seria motor de grande desenvolvimento. Qualquer que seja o regime político, a baixa qualidade do homem público brasileiro será determinante. Esquece-se de que as instituições, os regimes, são abstrações comandadas por indivíduos concretos.

A qualidade dos homens públicos brasileiros nunca foi grande coisa, mas vem piorando bastante. Jair Bolsonaro é mais um sintoma do que se passa no país. Por que a qualidade só piora? Porque a política no seu sentido amplo, o que inclui gente sem mandato eletivo, virou o lugar do rebotalho, ao que parece definitivamente. Como chegamos a esse ponto? É a reflexão que precisaria ser feita, mas não será. Até porque uma resposta possível seria bastante desencorajadora, embora talvez nos fizesse um pouco mais conscientes de traços irredutíveis do caráter nacional.

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