metropoles.com

Israel x Hamas: com acordo ou sem, Netanyahu é passado que não passa

O partido de Netanyahu perderia as eleições em Israel, se elas fossem hoje. Mas as eleições não serão antecipadas enquanto houver guerra

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Reprodução
Imagem colorida Netanyahu e exército isralenese - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida Netanyahu e exército isralenese - Metrópoles - Foto: Reprodução

Israel tinha três certezas fundadoras. A primeira era que os judeus nunca mais sofreriam algo nem longinquamente parecido com o Holocausto. A segunda era que nenhum judeu seria deixado só no desespero. A terceira era que o seu exército era invencível.

As três certezas foram abaladas com o ataque terrorista de 7 de outubro do ano passado. Israel não sofreu apenas um trauma. Está em crise existencial, apesar de a vida parecer ter retomado o seu curso natural — e vibrante, principalmente nesta Tel Aviv de noite animada e cheia de canteiros de espigões que se prometem mais arrojados do que os já erguidos desde o início do século.

Gaza será um enclave dentro de cada israelense enquanto a questão dos 136 reféns que permanecem nas mãos do Hamas não for resolvida. Qual é o preço que o país está disposto a pagar pelo retorno deles?

As famílias dos reféns, organizadas em torno da Hostage Families Forum — assunto que ainda abordarei em outro artigo —, querem que Israel pague o preço que for para que os reféns voltem. Mesmo que ele signifique o fim imediato da guerra.

O governo israelense não está disposto a abrir mão de uma vitória completa sobre o Hamas, embora já haja integrantes seus que concluíram que é impossível destruir o grupo terrorista e, ao mesmo tempo, resgatar os cidadãos sequestrados.

Enquanto escrevo este artigo, avançou a tentativa de novo acordo, com a intermediação de Estados Unidos, Catar e Egito, para a liberação de mais reféns. O Hamas estaria disposto a trocar a exigência do fim imediato das operações militares de Israel em Gaza por um cessar-fogo temporário, além da liberação de prisioneiros palestinos, inclusive de terroristas perigosos. Esse acordo teria etapas a serem cumpridas até que todos os sequestrados estivessem em casa. 

O acordo, no entanto, não cancelaria o problema principal: o Hamas continuaria a reinar em Gaza, como obstáculo à existência de um estado palestino.

Ontem, dia 1º de fevereiro, foi divulgada uma pesquisa de opinião feita pelo canal 12, a emissora mais influente do país. A maioria dos israelenses, 50%, é contra o acordo que está no noticiário envolto em névoa a ser dissipada talvez nas próximas horas (talvez). Trinta e cinto por cento são a favor, enquanto 15% não sabem ou não opinaram.

Quanto à interrupção do envio de ajuda humanitária para Gaza até que todos os reféns sejam libertados, 72% são a favor e apenas 21% são contra (7% não sabem ou não opinaram). 

Esse apoio à interrupção bate com as falas que ouço aqui: os israelenses não acham que a humanidade seja de mão única. Ressentem-se do apoio de civis palestinos ao Hamas, da participação de muitos deles no ataque bárbaro do ano passado, dos abusos e dos maus-tratos impostos aos reféns e estão convictos de que o principal beneficiário da ajuda humanitária é o Hamas.

Sobre a criação de uma comissão nacional para investigar as falhas do exército e a responsabilidade do governo no 7 de outubro, 61% apoiam a ideia, mas só quando a guerra acabar. Trinta e dois por cento acham que a investigação deveria começar imediatamente e 3% não querem investigação nenhuma.

De acordo com a pesquisa do canal 12, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu está liquidado politicamente. Se as eleições gerais fossem hoje, o seu partido, o Likud, teria apenas 18 cadeiras no parlamento. O principal partido de oposição, o Gantz, teria mais do que o dobro: 37 cadeiras. Nenhuma coalizão garantiria a vitória ao atual primeiro-ministro.

Livrar-se de Benjamin Netanyahu seria o caminho mais rápido para cancelar o enclave dentro de cada israelense. Mas é praticamente impossível que, neste momento de guerra, ele renuncie e as eleições gerais sejam antecipadas. A não ser que haja uma revelação incontornável sobre os seus esquemas de corrupção investigados pela Justiça.

Benjamin Netanyahu é passado que não passa. Ele continuará no cargo enquanto houver guerra e também no seu rescaldo — e o seu interesse, obviamente, é que ela se prolongue o máximo possível. Além de perder o voto da maioria dos eleitores, o apoio americano ao primeiro-ministro erodiu-se no mesmo dia da divulgação dos resultados da pesquisa do canal 12. 

Pressionado pelos seus eleitores de origem árabe, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, decidiu impor sanções aos colonos israelenses acusados de cometer violências na Cisjordânia. Esse colonos são da base eleitoral de Benjamin Netanyahu. O primeiro-ministro dá suporte a que haja mais assentamentos judeus na Cisjordânia, a porção de território governada pela Autoridade Palestina, inimiga do Hamas.

A política pró-assentamentos, que satisfaz a ultradireita e os ortodoxos da base aliada de Netaniahu, são outro empecilho à paz e à constituição de um estado palestino. 

Antes apoiados pela maioria da população israelense, os assentamentos contam agora com a simpatia da minoria. A pesquisa do canal 12 mostra, por exemplo, que 51% dos israelenses não veem com bons olhos a volta dos assentamentos em Gaza, contra 38% que acham a ideia boa. Definitivamente, não é uma ideia boa.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comMario Sabino

Você quer ficar por dentro da coluna Mario Sabino e receber notificações em tempo real?