Há de se admirar em José Dirceu o fato de ser um homem de convicções
As convicções de José Dirceu podem ser erradas, mas insistir no erro pode ser uma qualidade. Especialmente, na comparação com um Alckmin
atualizado
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Quantas vezes José Dirceu foi declarado morto politicamente? Duas, três, quatro? Mas ele sempre ressuscita.
Veja-se a festa de ontem, em Brasília, para comemorar os 78 anos do petista. De acordo com os jornais, a lista era de 300 convidados, mas esse número pulou para 500 na última hora, de tanta gente que se convidou.
Foi uma festa ecumênica, com políticos de vários partidos, inclusive do PL de Jair Bolsonaro, empresários e advogados (que, em Brasília, são chamados comicamente de juristas). Houve até fila de beija-mão. Ninguém queria deixar de marcar presença diante do guerreiro do povo brasileiro.
A energia é grande e positiva. O homem cogita candidatar-se a deputado federal, em 2026, depois que Gilmar Mendes anular os processos contra ele. E querem também que substitua Gleisi Hoffmann no comando do PT.
Há de se admirar em José Dirceu, para além da sua resiliência política e física, o fato de ter convicções firmes. As convicções podem ser erradas, mas insistir no erro pode ser uma qualidade.
Especialmente, quando esse homem de convicções, José Dirceu, é colocado ao lado de um homem sem convicções, como Geraldo Alckmin, que se dizia adversário figadal do PT, mas aceitou compor chapa com Lula.
O atual presidente da República foi cumprimentar o aniversariante a quem acusou de ser o mentor do mensalão — e forneceu a oportunidade de eu registrar o contraste.
Na minha opinião, ter convicções certas e renunciar a elas é pior do que ter convicções erradas e continuar a tê-las. Certo e errado, nesse caso, são noções subjetivas, eu sei, mas ninguém há de negar que Geraldo Alckmin é o oposto do candidato que enfrentou Lula na campanha de 2006, enquanto José Dirceu continua o mesmo.
Naquela época, o então tucano chamava o PT de “sofisticada organização criminosa”. Oito anos antes do início da Lava Jato, Geraldo Alckmin lamentou a impunidade para corruptos e comparou o partido do qual hoje é aliado com um bando de ladrões de carros. “É como ladrão de carro: por que ele rouba? Porque ele acha que não vai ser pego pela polícia”, afirmou.
Imagino que José Dirceu, e não só, dê sempre uma risada sardônica, lá no fundo da sua alma ou mesmo na superfície dela, quando vê Geraldo Alckmin pela frente.
Está certo que, em política, não existem inimigos, e as alianças podem ser improváveis. Mas estou para ver um caso como o do atual vice-presidente da República.
A história do apoio de Luiz Carlos Prestes a Getúlio Vargas tem alguma similitude. O chefe comunista apoiou Getúlio Vargas mesmo depois de o ditador ter despachado a mulher dele, a judia Olga Benário, para a Alemanha nazista.
Luiz Carlos Prestes se justificava dizendo que nunca colocou ressentimentos pessoais acima dos interesses do povo, e que se tratava, na época, de evitar que o Brasil fizesse o jogo de Hitler (e, claro, de obedecer às ordens do camarada Stalin). Luiz Carlos Prestes, contudo, nunca deixou de ser comunista.
Geraldo Alckmin era considerado pelos tucanos um homem de direita, os seus eleitores também achavam que ele era de direita — e ninguém sabe dizer agora o que Geraldo Alckmin realmente é.
Pode ser que ele, na realidade, nunca tenha tido convicção nenhuma. Que era um homem que só aparentava ter convicções e que deixou de fazer teatro ideológico quando a melhor oportunidade surgiu. Geraldo Alckmin seria desde sempre, então, apenas um homem pronto a sucumbir a suas circunstâncias pessoais. Isso o torna melhor? Pergunto a José Dirceu.