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Governador Tarcísio, atenção: o caso do Porsche tem dimensão política

Governadores não têm poder sobre a Justiça, mas têm sobre a polícia. Tarcísio precisa mostrar que, em SP, ricos não têm privilégios

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Foto colorida de Fernando Sastre de Andrade Filho, acusado de homicídio após provocar um acidente com seu Porsche em alta velocidade - Metrópoles
1 de 1 Foto colorida de Fernando Sastre de Andrade Filho, acusado de homicídio após provocar um acidente com seu Porsche em alta velocidade - Metrópoles - Foto: Reprodução

Há um novo capítulo no caso do filhinho paulistano que bateu o Porsche do papai, em altíssima velocidade, no carro de um motorista de aplicativo, matando o coitado do trabalhador, e se safou da prisão porque foi salvo pela mamãe, que “passou uma conversa” (as aspas são bem minhas) nos policiais para tirá-lo, sem teste de bafômetro, da cena do homicídio. O capítulo compõe uma história que deveria chamar mais a atenção de Tarcísio de Freitas.

A ex-mulher do papai do filhinho denunciou o ex-marido por tortura, agressões e ameaça, segundo informam os jornais. Ela luta na Justiça pela divisão de bens que somam R$ 30 milhões de reais, e tendo a crer que as circunstâncias da morte do motorista de aplicativo podem ajudá-la na batalha judicial.

O papai do filhinho é acusado pela ex-mulher, em dois boletins de ocorrência, de tê-la agredida a tapas, ameaçado estrangulá-la com o fio do carregador de celular e tentado enforcá-la com as mãos. Estupro é outro item da lista de denúncias. Certa feita, ela afirma que foi jantar com ele, sentiu uma tontura estranha, desmaiou e acordou em um motel. Estava nua e com hemorragia nas partes íntimas. O homem a impediu de ir ao médico.

O ciúme dele era uma dor para ela, literalmente. O Metrópoles conta que, depois de participar de uma apresentação de dança cigana, ela teve o seu pé e os dedos das mãos torcidos. “Agora quero ver você dançar”, teria dito o machão.

A moça também diz ter levado um soco do filhinho do papai do Porsche, mas que não registrou a agressão porque seria “como denunciar um filho”.

O papai dono do Porsche não tinha medo de ir preso. Ao contrário, ele é que metia “metia medo” na ex-mulher. Ele dizia ser muito rico e, por isso, afirmava poder “controlar a polícia”. O ex-marido também se gabava de conhecer integrantes do PCC.

O menino é pai do homem, e esse homem é pai de um menino que, pelo jeito, tem um espelho perfeito no pai. Para alguém que está de fora, não há nada a fazer para quebrar essa corrente de trasmissão familiar. Mas dá para impedir que ela seja nociva à sociedade.

Governador Tarcísio de Freitas, esse caso tem uma dimensão política da qual o senhor talvez não se tenha dado conta. Para quem acompanha a história, está cada vez mais claro que há dois tipos de cidadão no país, como eu já disse em outro artigo: o cidadão com Porsche e o cidadão sem Porsche. E o cidadão com Porsche é mais cidadão que o cidadão sem Porsche.

Governadores não têm poder sobre a Justiça, mas têm sobre a polícia. É preciso que os policiais que livraram a barra do homicida do motorista de aplicativo, logo depois do ocorrido, sejam punidos exemplarmente. É preciso mostrar que, em São Paulo, pelo menos, não há mais privilégios de classe que possam resultar em impunidade.

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