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Glória a Deus, glória a Lula

Em conferência eleitoral do PT, Lula diz que o partido tem de falar aos evangélicos; na sequência, campanha do governo fala aos evangélicos

atualizado

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1 de 1 imagem colorida do presidente Lula - Metrópoles - Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

As pesquisas sobre a aprovação a Lula mostram, em geral, que 60% dos brasileiros avaliam o governo do petista de regular a ruim ou péssimo. Como sempre, o estado da economia é o que conta. O país cresce pouco para escalar na riqueza das nações e crescerá menos ainda no ano que vem, a julgar pelas projeções. Mesmo que os economistas estejam errando para baixo nas suas estimativas, não haverá nenhum salto significativo. Aspiramos à mediocridade desde há muito.

Diante desse contexto, o PT está preocupado com eventual aumento da desaprovação ao presidente da República. Na conferência eleitoral do partido, na sexta-feira passada, Gleisi Hoffmann disse que “se cair um pouquinho a popularidade de Lula, não tenham dúvida do que o Congresso vai fazer. Foi o que aconteceu com a Dilma. E começou com a economia. Se a gente baixar a popularidade do presidente, esse Congresso engole a gente”.

Curiosamente, o PT acha, ao mesmo tempo, que, para ganhar eleição, é preciso fazer como Dilma Rousseff na economia. “Eu falei para a Gleisi. Se tiver que fazer deficit, nós vamos ter que fazer, porque senão nós não ganhamos eleição em 2024”, disse José Guimarães, líder do PT na Câmara dos Deputados.

No mesmo evento, Lula externou críticas ao partido que dirige com mão de ferro, terceirizando culpas:

“Nós temos que nos perguntar por que que um partido que, muitas vezes no discurso pensa que tem toda a verdade do planeta, só conseguiu eleger 70 deputados? Por que tão pouco se a gente é tão bom?”

E continuou, com a sua prosódia peculiar:

“Por que tão pouco se a gente acha que a gente poderia ter muito mais? É preciso que a gente tente encontrar resposta dentro de nóis. Será que nóis estamos falando aquilo que o povo quer ouvir de nóis? Será que nóis estamos tendo competência para convencer o povo das nossas verdades?”

Lula apontou falta de comunicação do PT com parte importante do eleitorado, os evangélicos, cuja maior parte vota contra o partido defensor do aborto e de outras pautas que ofenderiam o Senhor:

“Como é que a gente vai chegar nos evangélicos, companheira Benedita? Se fosse fácil, colocava você, que é a mais linda evangélica deste país para resolver os nossos problemas, mas não é você. Não é individualmente um problema de uma pessoa. É uma narrativa que temos que aprender para conversar com essa gente.” 

Ele também falou de como o partido não consegue se comunicar com quem já ascendeu a certa classe média:

“Quem ganha mais de R$ 5.000 não quer votar na gente. Essa pessoa ficou ruim? Não, às vezes essa pessoa elevou um pouco o padrão de vida. Desaprendemos a conversar com ela.”

Ao final, com a sua elegância metafórica de sempre, Lula previu que o embate Lula x Bolsonaro se repetirá no ano que vem:

“Eu, sinceramente, acho que nessa eleição vai acontecer um fenômeno, vai ser outra vez Lula e Bolsonaro disputando essas eleições no município. E vocês sabem que não pode aceitar provocação, não pode ficar com vergonha, não pode ficar com o rabo no meio das pernas.”

Dois dias depois, a Secom lançou uma campanha publicitária com o slogan “O Brasil é um só povo”, composta por filminhos com música gospel e personagens que festejam programas sociais do governo, dizendo “glória a Deus”. 

É uma campanha destinada ao público evangélico, que ambiciona combater a intolerância e o negacionismo da polarização política e que também quer melhorar a aprovação do governo. Como afirmou o ministro Paulo Pimenta, “nosso objetivo desse fim de ano é fazer com que aquele público do regular abra a porta para ouvir o que a gente tem a falar”.

Salvo engano, ninguém ligou para a falta de limite explícita entre o interesse eleitoral do partido em incrementar a aprovação de Lula, em aproximar-se dos evangélicos, em contornar a polarização política, e a iniciativa publicitária do governo em tentar convencer o cidadão mais cético de que tudo vai bem, em apresentar os evangélicos como um dos retratos da nação e em promover a concórdia nacional.

O TSE declarou Jair Bolsonaro inelegível por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação naquela reunião no Palácio da Alvorada com embaixadores estrangeiros a três meses da eleição presidencial. 

Foi nessa ocasião que ele colocou em dúvida a lisura das urnas eletrônicas, mas o que pesou mesmo foi o desvio de finalidade de ter chamado embaixadores como chefe de Estado para autopromover-se como candidato. 

O desvio de finalidade de que Jair Bolsonaro foi acusado não encontra paralelo no desvio de finalidade de uma campanha publicitária supostamente institucional feita sob medida para atender às necessidades eleitorais do partido do presidente da República no ano que vem? É só uma pergunta.

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