GLO: Flávio Dino e Lula correram para beijar a cruz das Forças Armadas
A GLO mostra, além do desgoverno na segurança pública, o fim da ilusão petista de que as Forças Armadas virariam uma guarda bolivariana
atualizado
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Flávio Dino correu para beijar a cruz das Forças Armadas, com a decretação da GLO para atuação de militares em portos e aeroportos. Ele e Lula correram para beijar. Recorreram à Garantia da Lei e da Ordem em áreas federais para fingir que têm método e inteligência para combater traficantes de drogas e de armas.
Uma semana antes do decreto, Lula disse, em café da manhã com jornalistas, que não haveria GLO enquanto fosse presidente. O autodesmentido mostra, além do grau de desgoverno na segurança pública, o fim da grande ilusão esquerdista em relação às Forças Armadas.
No universo das suas afinidades eletivas com o PT, Flávio Dino acreditava que, na esteira do envolvimento das Forças Armadas com o bolsonarismo, a esquerda tinha a chance de transformá-las em uma espécie de guarda bolivariana comandada por “generais do povo”. É nesse contexto que se deve entender as tentativas de demitir José Múcio do Ministério da Defesa, de dar a ministros o poder de decretar GLOs e de até mesmo extingui-las.
Ilusão perdida. Uma coisa é ser valente com milico do baixo clero — e o baixo clero é uma condição existencial, pode abrigar também altas patentes. Outra muito diferente é enfrentar o Alto Comando do Exército e das demais forças. Os comandantes militares neutralizaram todas as investidas do PT neste primeiro ano de Lula, inclusive a de colocar as Forças Armadas como golpistas a serem reeeducadas pelos democratas da esquerda (ainda precisa ser contado o bastidor da demissão do general do petismo que era ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, aquele que passeava no Palácio do Planalto durante o quebra-quebra de 8 de janeiro).
Investidas repelidas, o Lula reto e vertical que nunca decretaria uma GLO enquanto fosse inquilino do Palácio do Planalto e o seu ministro da Justiça curvo e horizontal agora passam pela humilhação de dar poder de polícia às Forças Armadas em áreas de administração direta do outrora Poder Executivo. Em outras palavras, Garantia da Lei e da Ordem para conter o crime organizado do qual a Polícia Federal sob o guarda-chuvão de Flávio Dino não consegue dar conta no território das suas atribuições.
O ministro da Justiça tentou fazer desse limão uma mousse com o discurso de que não é GLO para subir morro estadual, então é diferente das outras, e de que, portanto, Lula não voltou atrás na sua fala da semana anterior, nem ele das suas convicções, de que tudo faz parte de um plano bem pensado etc., mas só os ingênuos compraram essa balela.
Flávio Dino perdeu completamente o controle sobre a criminalidade. Perdeu completamente, não, porque nunca teve controle sequer parcial. A descoordenação do governo Lula com todos os governos estaduais ulula na área de segurança pública. O plano de combate a traficantes e milicianos que o ministro da Justiça tirou do boné, quando a coisa apertou ainda mais na Bahia e no Rio de Janeiro, deveria levar o nome de “esta noite se improvisa com um bandeide”. Mas sejamos justos: Flávio Dino não é tanto causa, é mais efeito do laxismo ideológico da esquerda com a bandidagem.
Ele e Lula tiveram de beijar a cruz das Forças Armadas porque não sabem o que fazer. Essa GLO de seis meses (ou GLOhhh!, como dizem os piadistas em São Paulo) é para enganar trouxa, dando a impressão de que se está fazendo algo, o que cientista político rotula de populismo. Trouxa, no Brasil, é o primeiro sinônimo de eleitor.
Crime organizado se combate com polícia organizada, não com medida excepcional que está longe de ser a GLO prevista na Constituição (da qual, imagina-se, Flávio Dino é conhecedor), uma vez que militar não nasceu para ser meganha.