Fábula suprema: “O burro vestido com a pele do leão”
Depois de ler reportagens sobre os bastidores de certa Justiça brasileira, ocorreu-me reproduzir uma fábula suprema de Jean de La Fontaine
atualizado
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Depois de ler as reportagens iniciais dos jornalistas Fabio Serapião e Glenn Greenwald sobre os bastidores de certa Justiça brasileira, ocorreu-me reproduzir uma fábula suprema do moralista francês Jean de La Fontaine. Ganhei o livro do meu tio João e da mulher dele, tia Eunice, no Natal de 1969, quando eu contava 7 anos.
A fábula suprema intitula-se O burro vestido com a pele do leão. Ei-la:
“Fugindo do seu dono que era moleiro, o burro correu para a floresta e lá encontrou a pele de um bravo leão. Sem mais delongas vestiu-a e todo emproado saiu o fanfarrão a percorrer os arredores. Todos o respeitavam; homens e animais o temiam, fugindo logo que ele aparecia; embora medroso e covarde, o burro fazia tremer todo mundo e disso se ufanava.
Mas, para sua desgraça, a ponta de uma orelha ficou de fora e o moleiro percebeu todo o embuste. Tomando de um pau enxotou o ridículo mascarado a pauladas, rindo-se a valer de sua pouca sorte. Depois arrancou-lhe a pele, pôs-lhe os arreios e saiu montado nele.
Todos que assistiam a tal cena se admiravam que o moleiro tivesse tal coragem, pois não sabiam que o leão não passava de um pobre burro.
Assim acontece entre os homens. Muitos são os que aparentam uma coisa e na realidade são outra; desde que se lhes tire a máscara perdem toda a arrogância e mostram o pouco que valem.”
Importante: Jean de La Fontaine morreu em 1695 e, portanto, não pode ser incluído em inquéritos. Censurar a fábula também é impossível: o livro que ganhei do meu tio João e da minha tia Eunice está fora do mercado há décadas.