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Emendas: regras de transparência servem para o roubo ser transparente

O problema não é falta de transparência e rastreabilidade do dinheiro das emendas. É falta de vergonha na cara dessa gente que elegemos

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Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
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1 de 1 Imagem colorida do Plenário da Câmara dos Deputados - Metrópoles - Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Deputados e senadores não rasgam dinheiro. Somos nós os loucos que rasgamos dinheiro elegendo continuamente gente que não presta. Veja-se o caso das emendas parlamentares.

Não vou entrar na classificação burocrática, alguns diriam zoológica, que as regem. Do jeito que a coisa está, não faz a menor diferença você saber se as emendas são de comissão, de bancada, individuais ou da Santíssima Trindade. 

Vespa-alemã ou vespa-asiática, a picada dói do mesmo jeito. Boa parte do dinheiro das emendas acaba desviado direta ou indiretamente para as contas dos gatunos que nos governam, a pretexto de salvar as criancinhas do Brasil.

O STF suspendeu as emendas impositivas. Na zoologia do Legislativo, a rubrica significa um total de 35,3 bilhões de reais por ano que o governo federal deve enviar, no picadinho, para órgãos indicados por parlamentares. 

Basicamente, o governo acha que está gastando além da conta para tentar comprar votos de deputados e senadores. Há que ter limite nesse cachê, porque é preciso sobrar mais para o governo comprar, sem intermediários, votos dos cidadãos.

O Supremo, então, provocado por uma linha auxiliar do governo, o PSol, quer que o Executivo e o Legislativo adotem medidas de transparência e rastreabilidade da mufunfa. É para rir: hahahahaha.

Desculpe a falta de compostura. Vamos lá: negociado um novo rachuncho para emendas impositivas, criam-se as tais medidas de transparência e rastreabilidade para verificar se o prefeito lá de Chulelé da Serra, compadre do deputado federal da região, sócio de uma concessionária de tratores do filho desse deputado, fez licitação para comprar tratores para a prefeitura com o dinheiro da emenda impositiva.

Se não fez licitação, pode ser que saia uma reportagem sobre a irregularidade que beneficiou a empresa do prefeito e do filho do deputado da região, sob a desculpa de aquisição emergencial. Se fez licitação, pode ser que uma reportagem mostre que a licitação estava viciada. 

Se o prefeito não comprou trator nenhum e embolsou o dinheiro junto com os seus comparsas, pode ser que um repórter mais abnegado, ainda crente na importância da sua profissão, descubra e publique.

Como ninguém mais dá importância a reportagem nenhuma, o trambique só terá repercussão se houver outro gatuno incomodado com a gatunagem do colega e um tribunal de contas qualquer for acionado. Mas nada que não possa ser resolvido entre eles.

A única coisa que vai mudar se houver regras para a destinação de dinheiro proveniente de emendas impositivas é que se poderá saber em detalhes como o pagador de impostos foi roubado. Não significa que ele não será roubado. Ele só será roubado com mais transparência e rastreabilidade, mas não tanta assim, porque quando se cria uma regra, o brinde que vem junto é o drible na regra.

O grande problema brasileiro não é falta de transparência e rastreabilidade.  É falta de vergonha na cara. É porque continuamos elegendo gente que não presta. Gente opaca. Regras de transparência e rastreabilidade só funcionam quando é uma minoria que é desonesta. Dito isso, todos estão livres para comemorar como conquista civilizatória o acordão que virá sobre o assunto. Hahahahaha.

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