Embriaguez de poder é como a de álcool, e sua arrogância acaba punida
Embriagado de poder, o sujeito se crê capaz de tudo, não percebe os embaraços que causa e muitos menos os ressentimentos que deles resultam
atualizado
Compartilhar notícia
Protagonistas sem limites no exercício do poder, para os quais todas as críticas são crimes de lesa-majestade, remetem a César, Savonarola e Robespierre, guardadas as distâncias longínquas fixadas pela história.
Personagens diversos, de épocas diferentes, os três tiveram destinos igualmente trágicos. Embriagados de poder absoluto, dispostos a esmagar adversários em nome da defesa do que julgavam ser o bem comum — a reforma de Roma, a fé e os valores cristãos, os ideias revolucionários, respectivamente —, César, Savonarola e Robespierre foram abreviados pelas reações que causaram.
A embriaguez do poder é como a do álcool no aumento da autoconfiança e no seu desdobramento, a arrogância. O sujeito se acha capaz de tudo, o dono da verdade, não percebe os constrangimentos que produz no outro com o seu comportamento e muito menos os ressentimentos e as feridas que deles podem resultar.
César não acreditou que o desafiavam até o último golpe de punhal que recebeu no Senado romano; Savonarola pensava ser mais forte do que o papa e acabou condenado à fogueira; Robespierre, o “Incorruptível”, liderou os anos do Terror revolucionário, matou inimigos e amigos que julgava perigosos e, para a sua surpresa, terminou preso e guilhotinado como eles.
Nos tempos antigos, os embriagados de poder eram punidos com a morte física; nos tempos atuais, ao menos nas democracias que a eles resistem, os embriagados de poder são castigados com a decadência política e a ruína moral, embaladas no desprezo público ou no completo ostracismo. A prevenção é prosaica, mas nem por isso fácil para os adictos: o poder deve ser usado com moderação. A história ensina.