Em bom português, Sérgio Tavares foi alvo de intimidação em Cumbica
Ao deter o jornalista e ativista de direita no aeroporto de Cumbica, a PF deu a sua contribuição à deterioração da imagem do Brasil
atualizado
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A PF deu a sua modesta contribuição à deterioração da imagem do Brasil no exterior: deteve no aeroporto de Cumbica, por cerca de três horas, o jornalista português Sérgio Tavares, ativista de direita, que veio ao Brasil para registrar a manifestação na avenida Paulista convocada por Jair Bolsonaro. Segundo ele, a ideia era fazer “imagens do evento do Bolsonaro para mostrar ao mundo que essa manifestação é grande”.
Depois que Sérgio Tavares relatou a sua situação nas redes sociais, a PF divulgou uma nota para afirmar que “estava seguindo o procedimento padrão para avaliar a situação do indivíduo, verificando se ele está no país a turismo ou a trabalho e por quanto tempo pretende permanecer no país, seguindo o protocolo regular de admissão de estrangeiros.”
A nota segue: “Tal indivíduo teria publicado em suas redes sociais que viria ao país para fazer a cobertura fotográfica de um evento. Todavia, para isso, é necessário um visto de trabalho, o que ele não apresentou”. Não é verdade. Cidadãos da União Europeia podem vir ao Brasil para exercer atividade jornalística sem necessidade de visto de trabalho por um período de 90 dias, desde que não sejam por pagos por fontes brasileiras.
Pela nota da PF, que curiosamente evita citar o nome de Sérgio Tavares, tratando-o como “indivíduo”, parece que os policiais já sabiam da chegada de Sérgio Tavares e haviam monitorado as redes sociais do jornalista. Não é um procedimento padrão em democracias.
O restante da nota aponta para um caminho perigoso: “Além disso, o estrangeiro foi indagado por comentários que fez sobre a democracia no Brasil, afirmando que o país vive uma ‘ditadura do Judiciário’, além de outras afirmações na mesma linha, postadas em suas redes sociais. Vale ressaltar que as mesmas medidas são adotadas por padrão na grande maioria dos aeroportos internacionais”.
De acordo com Sérgio Tavares, a PF o indagou sobre Flávio Dino, Alexandre de Moraes, vacinas e o 8 de janeiro, antes de liberá-lo. Perguntar a um estrangeiro sobre o que ele escreveu ou disse a respeito de autoridades do país a que ele chega é típico de regimes autoritários. Está muito longe de ser algo corriqueiro.
Sérgio Tavares havia entrevistado Jair Bolsonaro em fevereiro. Na entrevista, o ex-presidente fez as suas acusações de sempre ao TSE. Como ativista de direita, o jornalista português compartilha das mesmas visões de Jair Bolsonaro sobre o mundo. A PF contribuiu para fortalecer as convicções do rapaz.
Na manifestação na avenida Paulista, ele afirmou que garantirá que “a Europa e o mundo” saibam “a verdade sobre o Brasil”. O mundo vai saber que vocês precisam de liberdade, que vocês não podem ter censura. Não podem obrigar bebês a serem vacinados. Liberdade!”.
Democracia de verdade protege o pleno direito dos cidadãos — também estrangeiros — à liberdade de expressão e de reunião. Esse direito inclui as bobagens que eles porventura expressem. O limite deveria ser o bom e velho Código Penal. Em bom português, Sérgio Tavares foi alvo de intimidação policial em Cumbica.