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E se altos militares da ativa foram coautores da “minuta do golpe”?

Se Anderson Torres vier a citar gente graúda das FA — apenas suponho –, é preciso que personagens maduros conduzam a depuração

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Presidente Jair Bolsonaro conversa com o ministro da justiça Anderson Torres, durante lançamento do novo documento no Palácio do Planalto
1 de 1 Presidente Jair Bolsonaro conversa com o ministro da justiça Anderson Torres, durante lançamento do novo documento no Palácio do Planalto - Foto: Gustavo Moreno/Metrópoles

O ex-ministro da Justiça Anderson Torres, em cuja casa foi encontrada a “minuta do golpe”, é a figura-chave para que se esclareça quem participou da trama que pretendia anular o resultado da eleição presidencial, por meio dessa pitoresca declaração de Estado de Defesa no Tribunal Superior Eleitoral, uma teratologia jurídico-institucional.

Se for esperto, o ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro entregará quem querem que ele entregue, em troca de pegar uma pena menos dura. O prêmio mais cobiçado por Lula, pela oposição e por quase todos os ministros do Supremo Tribunal Federal é a cabeça do ex-presidente da República. Sonham com torná-lo inelegível. Mas Anderson Torres poderá citar nomes que talvez coloquem os mandachuvas de Brasília numa sinuca de bico, se personalismos, vendetas e ideologias se sobrepuserem à maturidade.

Falo de nomes de militares. Não os aloprados da reserva que habitavam o Palácio do Planalto, mas gente graúda que está na ativa em seus bivaques.

Nunca acreditei que pudesse haver golpe militar em favor de Jair Bolsonaro. Quando era presidente, ele pediu expressamente uma quartelada e ouviu a negativa dos comandantes das Forças Armadas. O ato terrorista praticado pela turba bolsonarista em Brasília, no domingo passado, foi pensado para ser gatilho de uma intervenção pretoriana. Não funcionou. Mas há um punhado de militares de alta patente que, a partir de 2022, passou a flertar mais fortemente com a ideia de golpe, na convicção de que Jair Bolsonaro seria vítima de fraude nas eleições. Há indícios, não provas, de que o vandalismo nas sedes dos três poderes teria contado com a benevolência desses integrantes da caserna.

Desde então, o clima entre Lula e os militares, que já não era dos melhores, inclusive porque todos eles acreditam que o petista é culpado dos crimes dos quais foi acusado, está de cortar com faca, como se costumava dizer. Para além de tudo, ao recusar, ainda que provisoriamente, ajudantes de ordens provenientes das Forças Armadas, por medo de ser assassinado, o presidente petista não quebrou apenas uma tradição. Indignou os militares não golpistas, que viram na recusa presidencial um desaforo à instituição da qual Lula é o comandante supremo, segundo a Constituição Federal.

O ambiente não será distensionado, evidentemente, se Anderson Torres vier a citar altos militares da ativa como coautores da “minuta do golpe”. Caso o ex-ministro da Justiça venha a fazê-lo — estamos apenas no terreno da suposição –, é preciso que os personagens maduros que restam em Brasília conduzam o processo de depuração com a serenidade possível e sem a contaminação de um espírito revanchista que leve a crer que as necessárias punições serão tomadas por vingança.

Ninguém precisa gostar de ninguém, mas as Forças Armadas, em que pesem todas as diferenças em relação a Lula e ao PT, não podem ser tratadas como inimigas pelo atual chefe do Poder Executivo e entornos. A recíproca é igualmente verdadeira.

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