É infantil imaginar que Boulos atrairá a massa de eleitores de Marçal
Guilherme Boulos parece desesperado com a perspectiva de tomar uma surra histórica de Ricardo Nunes nas urnas. Nutre um pensamento mágico
atualizado
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Guilherme Boulos parece desesperado com a perspectiva de tomar uma surra histórica de Ricardo Nunes nas urnas. A pesquisa Datafolha divulgada ontem mostra que a diferença entre dois candidatos à prefeitura de São Paulo no segundo turno é a maior em 24 anos.
O psolista apoiado por Lula nutria o pensamento mágico infantil de que as pesquisas feitas antes do primeiro turno sobre os cenários de segundo turno eram verdadeiras apenas quando projetavam a sua vitória sobre Pablo Marçal, não quando apontavam para uma derrota feia para o peemedebista apoiado por Tarcísio de Freitas.
Um ano atrás, muitos achavam, eu inclusive, que Ricardo Nunes encontraria alguma dificuldade para vencer Guilherme Boulos. Ainda se pensava que os eleitores paulistanos pendiam majoritariamente para centro-esquerda, como em 2022, na eleição para o governo do estado, quando Fernando Haddad venceu Tarcísio de Freitas na capital. Ainda se acreditava que, edulcorado na imagem e sustentado por Lula, o psolista teria estas outras alavancas para levantar a sua candidatura.
O que o primeiro turno mostrou é que o eleitorado da cidade de São Paulo agora pende para a centro-direita, que o adoçamento da imagem do radical Guilherme Boulos não colou e que Lula, de fato, já não é mais o mesmo em matéria de popularidade e da consequente falta de disposição em promover os seus candidatos.
Guilherme Boulos tenta impingir a Ricardo Nunes a pecha de bolsonarista. A aliança do atual prefeito com Jair Bolsonaro, porém, é de ocasião e feita a contragosto de ambas as partes, como não se cansa de demonstrar o próprio Jair Bolsonaro. Tanto é que a franja raivosa do bolsonarismo votou em Pablo Marçal no primeiro turno.
É patético que Guilherme Boulos tente atrair para o seu lado os eleitores de Pablo Marçal, apelando para um vago desejo de mudança em comum. O ex-coach foi um fenômeno de oportunismo pontual, não tem estofo para constituir uma corrente política e os seus eleitores são partidários de Jair Bolsonaro um pouco, mas só um pouco, desiludidos com o chefe e irritados com o que julgam ser a tepidez do governador Tarcísio de Freitas, verdadeiro fiador da candidatura de Ricardo Nunes, com o sistema.
É sonho de criança imaginar que os eleitores de Pablo Marçal migrarão em massa para Guilherme Boulos no segundo turno. A alergia à esquerda é a sua principal força movente e quase todos estão dispostos a tapar o nariz e votar em Ricardo Nunes, agora o único antípoda ao psolista. Não fosse Pablo Marçal surgir em cena, já o teriam feito no primeiro turno e, talvez, liquidado a fatura em favor do atual prefeito.
Para se ter a dimensão do desastre para Guilherme Boulos, de acordo com o Datafolha, Ricardo Nunes contará com 84% dos eleitores que votaram em Pablo Marçal, ao passo que o psolista ficará com 4% deles. Impressionantes 92% dos eleitores do coach rejeitam Guilherme Boulos. Entre os que votaram em Tabata Amaral, só 50% disseram que vão escolher o psolista. É pouco. Ou seja, não adianta inventar “Rota do Bem”, pit stop para entregadores e balelas que tais ou bancar o moderado social-democrata.
Ricardo Nunes só perderá esta eleição se descobrirem um BO ainda mais feio do que bater em mulher. Mesmo assim, há controvérsias. O Brasil desmoralizou o crime desde que torpedearam a Lava Jato, em nome da manutenção da democracia.