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É ignorância dizer que o ditador Maduro é de direita, não de esquerda

Estou falando do jornalismo que decidiu que a ditadura bolivariana da Venezuela, comandada por Maduro, é ideologicamente oposta ao que é

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Alfredo Lasry/Getty Images
Imagem colorida de Nicolás Maduro - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida de Nicolás Maduro - Metrópoles - Foto: Alfredo Lasry/Getty Images

Deve ser mais ignorância do que má-fé, o que não diminui em nada os seus efeitos deletérios. Estou falando do jornalismo que decidiu que a ditadura bolivariana da Venezuela, comandada por Nicolás Maduro, é de direita, não de esquerda.

É como dizer, com sinal invertido, que o fascismo e nazismo eram de esquerda, não de direita, como também se andou afirmando poucos anos atrás nas hostes bolsonaristas: uma tremenda besteira e falsificação histórica. Benito Mussolini, que começou socialista, foi financiado por empresas italianas, especialmente a Pirelli, para conter o avanço da influência soviética nos meios proletários e domar os sindicatos dominados pela esquerda. 

Corporativismo e nacionalismo estavam na base do fascismo, bem como na do nazismo — cujo partido tinha a palavra “socialista” no nome apenas para cooptar operários seduzidos pelo bolchevismo. Ao mesmo tempo, para diferenciar-se da esquerda e do seu internacionalismo, Adolf Hitler chamou o partido de “nacional-socialista” — e o nacional, no nazismo, é racismo.

Nicolás Maduro seria de direita, como quer certo jornalismo, porque a esquerda seria sempre democrática. Como assim? A concepção de “ditadura do proletariado” é de quem? Ah, ficou no passado. Ficou coisa nenhuma, só foi edulcorada depois do fracasso da União Soviética. 

A esquerda continua a acreditar que uma classe social — a operária, a dos trabalhadores, dê-se o nome que for — é a redentora de uma história que chegará ao seu final quando essa classe chegar ao poder e lá permanecer, eliminando as relações capitalistas. Mesmo para a social-democracia, o capitalismo, que fundamenta a democracia, continua a ser o grande problema a ser enfrentado.

O caso da China é uma peculiaridade, como já escrevi em outras paragens, por ser um totalitarismo que combina comunismo e corporativismo: o patrão é o Estado e a iniciativa privada é uma espécie de franquia a apaniguados que se servem do Estado e servem ao Estado.

Para a esquerda, a democracia é valor relativo, um meio para tomar o poder, não um valor universal, que pressupõe a alternância nos governos.

Houve uma grande discussão dentro do PT, nos 1990, sobre esse ponto. A conclusão de que a democracia é valor universal foi desmentida na prática partidária pelas contínuas tentativas de torpedeamento da democracia brasileira por meio de corrupção e, não menos relevante, pela lealdade ininterrupta aos regimes castrista e bolivariano, principalmente.

A esquerda é, na sua essência, autoritária, tal como demonstram os regimes venezuelano, cubano, nicaraguense, chinês e norte-coreano. O wokismo da esquerda ocidental replica essa essência ao transformar diferenças a ser protegidas em padrão a ser imposto a todos e ao usar anacronismos para reescrever ou cancelar o passado.

fato de uma ditadura como a de Nicolás Maduro reprimir também minorias não a torna de direita, apenas ressalta o seu anacronismo: os regimes comunistas, extremamente conservadores, também eram brutalmente repressores contra elas.

Ditaduras são ditaduras. Serem de direita ou de esquerda não as tornam menos ruins. Há certas características que lhes são comuns, como a ojeriza à liberdade de expressão e de imprensa (e a propensão à cleptocracia), e outras que as diferenciam. O regime venezuelano é de esquerda — autodeclarado, inclusive — por ser contra o capitalismo, sacrificar o individual no altar de um suposto coletivo, governar em nome de uma classe e querer exportar o seu modelo. O jornalismo que não enxerga esse fato é ignorante ou de má-fé.

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