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Deus morreu por um instante na creche Cantinho Bom Pastor

Quando o matador desferiu seus golpes em crianças completamente indefesas, havia ali apenas o mal que nos constitui e nos assombra

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policia faz pericia após Homem pula muro de creche em Blumenau e usa machadinha para matar 4 crianças - Metrópoles
1 de 1 policia faz pericia após Homem pula muro de creche em Blumenau e usa machadinha para matar 4 crianças - Metrópoles - Foto: Patrick Rodrigues/NSC total

Cantinho Bom Pastor. É o nome da creche em Blumenau onde quatro crianças foram mortas a golpes de machadinha: Bernardo Cunha Machado, de 5 anos; Bernardo Pabst da Cunha, de 4 anos; Enzo Marchesin Barbosa, de 4 anos; Larissa Maia Toldo, de 7 anos. No momento em que escrevo, outras cinco crianças pequeninas estavam internadas, também golpeadas pelo monstro, pelo demônio, pela besta-fera, que invadiu a creche.

A simples tentativa de imaginar a dor dos pais das crianças massacradas já me é insuportável.

Cantinho Bom Pastor: “O Senhor é o meu pastor; nada me faltará. Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas de descanso; refrigera-me a alma. Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome. Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal nenhum, porque tu estás comigo.”

Não havia o Deus do Salmo 23 da Bíblia na creche em Blumenau, quando o matador desferiu seus golpes em crianças completamente indefesas. Deus estava morto naquele momento. Havia apenas a banalidade do mal que nos constitui. Que nos assombra. E que se avulta no que há de mais vil.

Por ocasião do massacre em Suzano, em 2019, escrevi um artigo do qual extraio este trecho:

“A banalidade do mal habita as nossas vísceras, está sempre à espreita para manifestar-se em diferentes graus, dentro ou fora da lei. Os homens não nascem bons e sim maus. Somos a única espécie essencialmente má. Muitas vezes simplesmente não percebemos o que estamos fazendo, porque o mal nos é inerente.

O esforço civilizatório é para conter a banalidade do mal e introjetarmos o seu antípoda — a banalidade do bem. A primeira nos é natural; a segunda nos é cultural. Ou seja, precisa ser ensinada e cultivada. O ‘livrai-nos do mal’ do Pai Nosso é um apelo para que Ele nos livre do mal que existe em nós mesmos — e que mostra a sua face medonha em monstros como os autores do massacre em Suzano. Monstros são tão mais assustadores porque nos revelam as tentações dos nossos mais perigosos demônios interiores.”

A depender do estágio de civilização, o mal absoluto só vence esporadicamente. Mas as suas vitórias são sempre devastadoras. Foi assim em Realengo. Foi assim em Suzano. Foi assim na Vila Sônia. Foi assim em Blumenau, na creche Cantinho Bom Pastor, onde Deus voltou a morrer por um instante.

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