Censurar Monark é ridículo
Como é que a democracia pode se sentir ameaçada por Monark? Isso é de um ridículo que desmoraliza censura, censores e outros censurados
atualizado
Compartilhar notícia
“A censura, seja qual for, parece-me uma monstruosidade, uma coisa pior do que o homicídio; o atentado contra o pensamento é um crime de lesa-alma. A morte de Sócrates pesa ainda sobre o gênero humano.”
O escritor francês Gustave Flaubert fez o comentário acima em uma carta que ele enviou à sua amante, Louise Colet, em 1852, em comentário ao fechamento de jornais republicanos por Napoleão III, que dera um golpe de estado para se tornar imperador da França. A liberdade de imprensa foi abolida e todos os jornais foram colocados sob controle da polícia.
Cinco anos depois, o próprio escritor teria o romance Madame Bovary censurado por licenciosidade e seria processado por causa do livro. Ele foi absolvido, mas sofreu na pele o crime de lesa-alma.
Subi até Gustave Flaubert, na França do século XIX, para descer até o youtuber e podcaster Monark, no Brasil deste inconstitucional século XXI. Ao que parece, as instituições acham mesmo que o youtuber e podcaster Monark é uma ameaça à democracia. Acusado de espalhar fake news sobre o STF e o TSE, ele foi suspenso por ordem judicial das redes sociais e terá de prestar depoimento à PF. Não foi a primeira vez que a censura — e censura prévia — alcançou Monark. Como ele desobedeceu ao cala a boca e ainda xingou quem o calou, a Justiça voltou à carga.
Eu não conhecia Monark até ele cometer aquela estupidez de dizer, em um programa na internet, durante uma conversa sobre liberdade de expressão, que a existência de um partido nazista seria admissível. Monark pediu desculpas logo depois, afirmando que estava bêbado quando fez o comentário. Além de manguaceiro, ele é maconheiro, ou ex-maconheiro, sei lá.
Monark é mais um egresso da turma do fundão a quem a internet deu holofote, sem que isso signifique absolutamente nada para o mundo. Ele pode ter milhões de seguidores e espectadores, mas não é influenciador de coisa nenhuma e a sua periculosidade é a mesma de um yorkshire. O público de Monark está interessado apenas na irreverência boboca do velho adolescente que ganha dinheiro zoando políticos e autoridades. Como é que a democracia brasileira pode se sentir ameaçada por Monark?
Censurar o youtuber e podcaster maconheiro, ou ex-maconheiro, sei lá, não é nem mais um atentado contra o pensamento. É uma investida contra a falta de pensamento. É de um ridículo que desmoraliza a censura, os censores — e até outros censurados do presente e do passado, puxa vida. Será que daria para a Justiça ser inconstitucional com mais senso de proporção? Os censores nunca terão um Gustave Flaubert para calar, mas também não precisavam exagerar na ladeira a baixo.