Censura ao Twitter: Elon Musk já ganhou essa batalha
Milhões de brasileiros acessam o Twitter, apesar da censura judicial. Com VPNs e, agora, sem elas. É uma censura inútil, um faz-de-conta
atualizado
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A censura ao Twitter me remete a 2008, quando passei 40 dias a trabalho na China. Lembro-me de que perguntei a um grupo de jovens em Xangai como eles viviam sem poder acessar livremente a internet.
Eles riram. “Nós usamos caminhos que o governo não tem controle e, assim, temos acesso a qualquer site”, disse um deles. Os caminhos eram VPNs.
Dezesseis anos depois, o Brasil democrático vive situação idêntica à da China ditatorial. Milhões de brasileiros contornam a censura ao Twitter, entrando na rede social por meio de VPNs, mesmo sob risco de pagar multas pesadas por fazer isso. A não ser no caso de uma pessoa pública, alvo pré-determinado de censura prévia, a Justiça dificilmente se dará ao trabalho de ir atrás de quem está burlando a ordem do STF.
Estamos, portanto, no terreno do faz-de-conta, o que é francamente ridículo.
Para sublinhar o aspecto exótico da censura brasileira, o Twitter agora está acessível quase que normalmente no país. A rede social de Elon Musk passou a usar uma tecnologia que consegue tapear o bloqueio dos provedores de internet — e eles, agora, têm de se virar para cumprir o que lhes foi determinado pela Justiça.
Como não poderia deixar de ser, o dono do Twitter partiu para o deboche. Postou que “qualquer magia suficientemente avançada é indistinguível da tecnologia”, invertendo a frase famosa do escritor Arthur C. Clarke: “qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia”. Depois, a empresa disse que a manobra foi “involuntária”.
Os jornalistas brasileiros que aprovam a censura judicial tentam pintar Elon Musk como um idiota, o que os torna duplamente pitorescos. A esquerda acadêmica internacional, por sua vez, divulgou um manifesto no qual o dono do Twitter é retratado como integrante de um clube de capitalistas inescrupulosos e tirânicos. “O caso brasileiro tornou-se o principal front no conflito global entre as corporações digitais e aqueles que buscam um cenário digital democrático”, afirmam esses intelectuais cujo conceito de democracia é o mesmo que vigorava na Alemanha Oriental.
Elon Musk é um narcisista complicado, é militante declarado de um dos lados da guerra ideológica planetária, certas opiniões suas são abjetas, mas o fato é que ele já ganhou essa batalha contra a Justiça brasileira, ainda que nunca mais o Twitter lhe renda um centavo no país ou que ele venha a cumprir as decisões do STF. Porque é impossível censurar completamente o acesso a qualquer site, como prova a China e vem provando o Brasil.
A censura ao Twitter é inútil do ponto de vista prático, a näo ser para tentar intimidar desafetos e críticos de ministros do Supremo, o que é arbitrariedade pura. Bastava a punição financeira legal e proporcional para que o STF não passasse por tamanho desgaste — e desmoralização.