Calibra o pneu furado aí, Haddad
Se Paulo Guedes era o Posto Ipiranga de Jair Bolsonaro, Fernando Haddad parece ser o rapaz da borracharia que calibra os pneus para Lula
atualizado
Compartilhar notícia
Se Paulo Guedes era o Posto Ipiranga de Jair Bolsonaro, Fernando Haddad parece ser o rapaz da borracharia que calibra os pneus para Lula. Pneu vazio? Chama o Haddad para encher. O problema é que o pneus vão esvaziar logo adiante, porque não se trata de falta de calibração, mas de descalabro. Os pneus estão furados.
Não bastasse ter de arrumar um jeito para Lula gastar mais do que nós podemos — primeiro, por meio de articulação da PEC da Gastança; depois, via montagem do arcabouço fiscal me engana que eu gosto —, Fernando Haddad foi convocado pelo presidente da República para encher os pneus furados do MST, do presidente argentino Alberto Fernández e de Arthur Lira, presidente da Câmara.
No final de abril, a mando de Lula, o ministro da Fazenda reuniu-se com a direção do MST, em São Paulo. Para interromper as invasões de fazendas produtivas, os revolucionários vorazes querem 1 bilhão de reais do governo. Ou seja, avançam sobre a Fazenda que realmente interessa, a pretexto de “fazer a reforma agrária”. Calibra aí, Haddad, que esses foices e picaretas podem complicar a nossa vida.
Outros dois chamados ocorreram nesta semana: Fernando Haddad teve de participar da reunião entre Lula e Alberto Fernández, no Palácio do Planalto, porque o presidente brasileiro vai dar uma mão ao presidente argentino, que afundou o seu país numa inflação de mais de 100% ao ano e gastou todas as reservas da Argentina. Lula entrou no modo acelerado de não deixe o tango morrer, não deixe o peronismo acabar. Explica-se: na árvore genealógica do populismo latino-americano, o peronismo é primo mais velho do lulismo, e ele quer ver outro peronista suceder Alberto Fernández.
Já que a Argentina não tem mais dinheiro para importar nada, a ideia é que o Brasil financie as suas próprias exportações para o país vizinho. Os peronistas acham (e Lula também) que, com prateleiras de supermercados e lojas abastecidas por produtos brasileiros, eles podem maquiar a realidade e vencer as eleições presidenciais que se aproximam. Emprestar para a Argentina é como emprestar para aquele cunhado que não trabalha, esbanja horrores e só está nessa situação difícil porque a humanidade joga contra ele. Calote na certa. Mas Alberto “La Garantía Soy Yo” Fernández é bom companheiro e precisa da solidariedade da esquerda. Calibra aí, Haddad, que os pagadores de impostos do Brasil só vão cumprir o seu destino.
No caso de Arthur Lira, é um pneuzão. Para passar o PL das Fake News na Câmara, cuja votação de urgência foi adiada, visto que urgência é só para aprovar matérias do governo, não para rejeitar, o presidente da Casa cobra presteza na liberação dos 10 bilhões de reais em emendas que Lula lhe prometeu em troca dos favores. Calibra rápido aí, Haddad, que é preciso salvar as criancinhas do Centrão.
O lado divertido é que ouvi do líder de um partido parrudo que, na hipótese improvável de Lula não tentar a reeleição, Fernando Haddad deverá ser o candidato do PT em 2026, se tudo der certo na economia (voo de galinha já é dar certo). Se tudo der errado, o candidato poderá ser Rui Costa, disse ele. Nesse cenário sem Lula, portanto, ao tentar encher pneus furados, o rapaz da borracharia trabalha contra si mesmo.