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Assistolia fetal: nãaoo, o Brasil nãao tem senso de ridículo!!!

O teatro na sessão do Senado que debate assistolia fetal: o Brasil precisa ter um limite para o ridículo a partir da 40ª semana de gestação

atualizado

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1 de 1 imagem colorida mostra senador eduardo girão - metrópoles - Foto: Jeferson Rudy/Agência Senado

O Brasil não perdeu o senso de ridículo porque nunca teve. Fiz outra vez essa constatação ao assistir a uma, como posso chamar?, performance protagonizada por uma contadora de histórias no plenário do Senado Federal.

Não sabia da existência dessa contadora de histórias, ao que parece famosa em Brasília, mas vai longe o tempo em que eu nutria a ilusão de que aquilo que eu não conhecia simplesmente não existia. A existência da contadora de histórias chegou até mim aos berros.

Eu me deparei com ela em um vídeo publicado no Metrópoles. Diante dos senadores reunidos na audiência pública sobre assistolia fetal, a contadora de histórias encenou o desespero de um feto antes de ser morto pelo método que está em discussão. O método consiste em causar, por meio de injeção, uma parada cardíaca no feto para que ele possa ser abortado sem nenhum sinal de vida.

“Será? Será que é isso mesmo? Será que vão antecipar o meu parto? Nãaaoo, não acredito!!! Essa injeção!!! Essa agulha!!! Nãaaoo! Quero continuar vivo!!! Vai doer, eu sei!!! Vai doer muito!!! Não façam isso!!! Vocês também vão sofrer!!! Por Deus, eu imploro!!! Ainda é possível!!!”, berrou ela, ajoelhada, e completou:

“No instante final, um grito silencioso ecoou dentro daquela barriga, uma súplica desesperada: por misericórdia, nãaoo… Um bebê sentiu uma dor intensa, e por um momento a escuridão tentou envolvê-lo, mas a vontade de viver era indomável, ele lutou.”

O Senado está debatendo a assistolia fetal por iniciativa de Eduardo Girão, que acha que o método é cruel e configura tortura. Ele está inconformado porque o ministro Alexandre de Moraes suspendeu uma resolução do Conselho Federal de Medicina que proibia a utilização de assistolia fetal em fetos com mais de 22 semanas de gestação — aquele limite a partir do qual a bancada evangélica na Câmara quer criminalizar o aborto mesmo nas situações em que ele é feito sob a proteção da lei.

Para dramatizar os argumentos de Eduardo Girão, lançou-se mão da contadora de histórias com o seu histrionismo macabro para abrir a sessão. O teatro nunca foi mesmo o nosso forte, mas o Brasil precisava ter um limite para o ridículo a partir das 40 semanas de gravidez.

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