Ao vencedor petista, todas as batatas
Aos Rubiões que acreditaram no conto da frente ampla resta apenas chupar o dedo. Ficaram sem batatas e sem o ketchup da democracia
atualizado
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A esta altura da transição que está mais para transe, aquela gente que sabe fazer conta, mas caiu no conto da frente ampla criada pelo PT, deve estar se perguntando: “Xi, e agora?”.
A única resposta que me ocorre neste momento é o trecho em que o personagem Quincas Borba, de Machado de Assis, explica a Rubião, que seria o herdeiro da sua fortuna, no que consiste a sua filosofia, o Humanitismo, segundo a qual a seleção da espécie humana se dá pela guerra:
“Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos que assim adquire forças para transpor a montanha e e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais feitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.”
Em Machado de Assis, o Humanitismo é sátira do darwinismo. O ingênuo Rubião experimenta os efeitos da filosofia de Quincas Borba na pele, ao perder a fortuna que herdou para malandros e acabar louco. No mundo do PT, é realidade grosseira, falaciosa, demagógica, mas sempre realidade. O que os petistas fazem desde que cresceram e se multiplicaram é disputar ferozmente as batatas brasileiras, naquele nós-contra-eles inventado por nós, quer dizer por eles. Jair Bolsonaro e os seus desvairados só acrescentaram um ingrediente às batatas.
Pouco mais da metade dos eleitores achou que, de novo nas mãos do PT, elas voltariam a ter o ketchup da democracia. Aquela gente que sabe fazer conta e aderiu a essa ideia também achou — para logo descobrir, depois que as batatas foram entregues a Lula, que o ketchup era pouco e se acabou. Nada de batatas para ela, portanto. Só para aquela outra tribo que ora é nós, ora é eles, a depender das conveniências petistas e de si própria: o Centrão velho de guerra pelas batatas brasileiras.
O petismo é um Humanitismo. Aquela gente que acreditou em frente ampla é Rubião. Que não acabe louca, ao ficar chupando o dedo à procura de algum ketchup, enquanto assiste ao vencedor levando embora todas as batatas. Xi.